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domingo 6 outubro 2024
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Fé e Razão – Sobriedade caminho para a solidariedade

Sobriedade é uma via privilegiada que nos conduz à solidariedade, à partilha verdadeira e concreta, à partilha do pão. Por pão entendemos tudo o que é necessário para viver, para viver com dignidade humana, que é de todos, sem nenhuma discriminação. sobriedade não se opõe à solidariedade, mas é a sua alma, a sua força, o seu apoio, aquilo que lhe permite durar e crescer.

Não podemos ser solidários se não formos sóbrios; de outro modo, apenas se partilham as sobras do máximo das nossas necessidades. Pelo contrário, quem é sóbrio, em todas as coisas se deixa interpelar pela necessidade alheia; considera-a atentamente, encarrega-se dela e, tendo-a por base, decide o que lhe poderá bastar. Não é uma dobragem mesquinha sobre si mesmo; mas, pelo contrário, uma atitude de responsabilidade para com os outros! Por isso, só quem é sóbrio é que também poderá ser solidário.

Até onde poderá aventura-se a solidariedade que nasce da sobriedade? Até dar o seu supérfluo? Ou também além do supérfluo? E aqui que aposta toda a sua força moral e espiritual a verdadeira sobriedade: mesmo indo além do supérfluo! Por isso,estamos diante de uma solidariedade que se torna maior, radical e extrema.

A sobriedade cria espaços. Na mente, no coração, na vida, na nossa casa…, a sobriedade abre os outros, porque diminui a importância que damos a nós mesmos, aos nossos compromissos, às escolhas que nos parecem absolutamente indispensáveis e que, um instante depois de as termos realizado, nos desiludem, a tudo o que nos preocupa e nos cria ansiedades inúteis.

Sim, a solidariedade abre aos outros, porque se interroga a partir dos outros.
Por sua vez , a solidariedade preenche estes mesmos espaços. E pode enchê-los até a borda: não só através do amor, da compreensão, da ternura e da misericórdia, mas também,se necessário, através da partilha de bens materiais.

A sobriedade prepara o terreno para a solidariedade, afastando exagero, excessos e tendo o que egoisticamente fecha o homem, centrando-o e amarrando-o a si mesmo. Assim, a solidariedade pode esforçar-se por fazer crescer,neste terreno de essencialidade, novos compromissos de se encarregar do outro, de partilha com ele. Aliás, se a sobriedade é exercício de responsabilidade – pessoal e comunitária -, a solidariedade faz avançar um tipo particular de responsabilidade, a responsabilidade partilhada, a corresponsabilidade, isto é, a capacidade de responder com a totalidade de nós próprios, com tudo o que somos e temos, às exigências de todos os outros e, ao mesmo tempo, não só por nós próprios ou apenas em relação a alguns dos outros.

A sobriedade não é unicamente um valor pessoal e individual, mas também um valor social, comunitário. Reveste-se de um alcance mundial – num mundo cada vez mais globalizado -, dado que se refere ao uso sábio dos bens para o autêntico desenvolvimento sustentável da humanidade inteira, hoje e no futuro.

Prof. José Pereira da Silva