Coloquemo-nos na presença do Senhor e adoremo-lo. Segue-se um tempo de silêncio, de duração variável. E é na verdade que para ir ao deserto e juntar-se a Cristo no tempo da Quaresma trata-se, primeiro, de fechar os olhos e de fazer silêncio em nós, para o adorar.
É ao adorá-lo que o nosso coração de quaresma se separa de tudo aquilo que é exterior a ele, e que entramos nesta solidão repleta da presença de Deus.
É por isso que esta atitude de adoração deve estar no coração da nossa Quaresma, para que brotem uma generosidade e uma penitência verdadeiramente cristãs.
A adoração é o ato interior através do qual me coloco na presença de Deus, reconhecendo, com a minha inteligência, o seu domínio absoluto sobre a minha vida. Resolutamente, volto durante a Quaresma o meu olhar para Deus, e reconheço que Ele é absolutamente primeiro, este Deus de Quaresma, e que tudo o que sou depende radicalmente dele. Podemos mesmo afirmá-lo e dizer-lhe com essas palavras: Senhor, a minha vida depende inteiramente de ti. É de ti que eu a tenho com tudo o que sou. Para além de todas as riquezas que possuo, sei e proclamo que não seria nada sem ti. Que eu não seria. Prosto-me diante de ti, para me oferecer a ti e entregar entre as tuas mãos.
Viver esta oração de Quaresma é exprimi-la interiormente é colocar-me na relação mais fundamental e mais verdadeira a respeito de Deus. A adoração de Quaresma é a atitude interior que me volta a colocar no diapasão do mistério de Deus, e que recoloca a minha vida na sua verdadeira perspectiva.
Antes de qualquer outra ação, ser e dizer a verdade sobre a minha vida durante a Quaresma é adorar e reconhecer a majestade amante de Deus, reconhecendo que lhe devo tudo.
Ao adorar Deus, particularmente durante a Quaresma, reconheço que Ele me criou em toda a liberdade, sem ser obrigado, para me comunicar o seu amor. A dependência que tenho dele, Ele que possui sobre mim todos os direitos, não produz em mim nem angústia nem alienação. Ao contrário, é fonte de uma imensa confiança de Quaresma e de um abandono. Só nos podemos abandonar a quem cuida de nós e que nos é benevolente.
O Deus todo-poderoso de quem descobrimos a transcendência absoluta na adoração de Quaresma é também, e na mesma medida, um Deus que tem um amor infinitamente próximo, mais íntimo a mim que eu próprio.
Esta primazia de Deus na minha vida, que coloca todas as outras coisas no seu lugar certo, introduz a paz.
A adoração é um ato voluntário: posso adorar Deus quando quiser, em todas as circunstâncias. No meu coração prostro-me e recolho-me um instante até que tenha colocado Deus no seu lugar, no centro das nossas vidas.
Prof. José Pereira da Silva