Cada pessoa deve ser um artífice da paz no meio em que vive. O perdão é um caminho fundamental para a paz individual e coletiva. O perdão exige um árduo aprendizado pois significa ter a capacidade de perdoar , deixar- se perdoar e se perdoar.
Perdoar passa pelo diálogo que constrói pontes entre as pessoas, o que exige a escuta. O que se aplica a esfera individual aplica-se também a esfera pública. Do micro ao macro na sociedade. As guerras são fruto da falta de escuta e diálogo. E o mundo vive a turbulência das guerras.
A paz deve ser construída nos relacionamentos cotidianos e nos acontecimentos que exigem um esforço contínuo de diálogo, de tolerância, de respeito e de solidariedade. A sociedade está conturbada e muitas vezes se mostra avessa aos valores que sustentam a paz. É preciso o empenho em redescobrir outras formas de ser e estar no mundo.
Existe uma dificuldade concreta de se perdoar. A incapacidade de perdoar os outros não passa pelo fato de não conseguirmos perdoar a nós mesmos?
No Pai-Nosso se diz: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido”. Existe uma gramática do sentimento de culpa e do perdão.
É trazer a consciência “eu fiz mal a alguém” é ter consciência clara de que se fez mal a alguém. Quando se pratica o mal para uma outra pessoa não somos mais a mesma pessoa. Existe o risco do sentimento de culpa ser vivido de forma patológica e a pessoa presa no círculo da culpa. Em tal situação o eu está em crise, preso em seu próprio pesar. A pessoa volta inúmeras vezes ao tema da própria culpa.
Nesse processo a palavra tem um efeito libertador, ao verbalizar temos uma abertura. “Fui eu que diz o mal” é um sujeito concreto que se arrepende. Dizer “Fui eu” é assumir a própria contradição interior. Como dizia São Paulo: Não consigo entender nem mesmo o que eu faço; pois não faço aquilo que eu quero, mas aquilo que mais detesto” (Rm 7, 15).
É preciso pensar que a vítima em questão não é somente a outra pessoa que foi ferida, mas eu mesmo. Ao realizar o mal, prejudica-se a si mesmo. Corre-se o risco de girar em torno de si mesmo com possibilidade de chegar ao estado patológico. É importante desenvolver a capacidade de se transformar em um sujeito perdoado, que sabe se perdoar. Tal atitude abre caminho para perdoar o outro. Vencer a culpa interiormente e exteriormente tirar a máscara.
Esse caminho do perdão é libertador quando conjuga a consciência de nossa limitação e a aceitação de si mesmo. O ser humano tem uma “irracionalidade” que deve ser trabalhada.
Saber perdoar-se é um caminho para perdoar os outros. Perdoar a si mesmo exige um processo de aceitar-se e o outro lhe aceitar como se é, com suas capacidades e limitações. O perdão é um caminho importante para a paz e ambos são frutos de uma opção madura.
Prof. José Pereira da Silva