“Eis o dia que o Senhor fez. Exultemos nele, aleluia”. É o dia mais alegre do ano porque “o Senhor da vida estava morto; agora vive e triunfa”. Se não tivesse Jesus ressuscitado, vã teria sido sua Encarnação, e sua morte não teria dado vida aos homens. “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé” ( 1 Cor 15,17), exclama São Paulo. Quem, de fato, pode crer e esperar de um morto? Mas Cristo não é um morto, é um vivo. “Procurareis Jesus Nazareno, o crucificado – disse o Anjo às mulheres. Ressuscitou, não está aqui” (Mc 16,6).
A ressurreição do Senhor, a sua “passagem” da morte para a vida, deve espelhar-se na ressurreição dos fieis que se vai consumando pela “passagem” cada vez mais radical das fraquezas do velho homem para a vida nova em Cristo.
A boa nova da ressurreição deve propagar-se a todos os homens. Todo cristão deve ser mensageiro da Ressurreição e não tanto por palavras, mas trazendo em si seus sinais. A Páscoa quer renascidos, ressurgidos!
O cristão jamais acaba de converter-se, de renascer, de ressurgir: a condição de sua vida terrena deve ser a preocupação de um contínuo regenerar-se em Cristo, configurando-se sempre mais à morte e ressurreição dele.
O cristão nunca está realizado completamente: “Também nós – diz o Apóstolo – que possuímos as primícias do Espírito, nós também, interiormente, gememos à espera da redenção” (Rm 8,23). A redenção plena e definitiva só se realizará na vida eterna, só então o homem será assimilado de modo estável, ao mistério pascal de Cristo, estará morto “uma vez para sempre ao pecado” e “eternamente vivo para Deus em Cristo Jesus” (Rm 6,10-11).
Há, em suma, uma “ressurreição do coração” (como a chama São Leão Magno), além da ressurreição do corpo; e, se a ressurreição do corpo é “no último dia” (Jo 6,40), a do coração é em cada dia. Ressuscitar deve ser, ou tornar-se, o movimento mais familiar do cristão.
Ressuscitar significa, segundo uma expressão de São Paulo, viver uma nova vida (Rm 6,4); abandonar o velho modo de viver e viver de um modo novo, com a novidade criada pela Páscoa de Cristo. “Fazer a Páscoa”, lê-se em um Padre da Igreja, “significa passar da velhice à infância; uma infância, entenda-se, não de idade, mas de simplicidade” (São Máximo de Turim, Sermões,54,1).
O que exige de cada um de nós caminhar segundo o Espírito Santo, caminhar em novidade de vida, caminhar na obediência a Deus.
Jesus se faz presente em meio à nossa assembléia, como fez com os Onze reunidos no cenáculo oito dias após a Páscoa; vem “ a portas fechadas”, porque não vem de fora, mas de dentro; a Sua presença nasce aqui entre nós, no sinal do pão e do vinho que se tornam o Corpo e o Sangue do Ressuscitado. Ele nos repete: “A paz esteja conosco! Recebei o Espírito Santo!”.
Precisa cada cristão dar lugar ao Senhor, para que possa ressuscitar e reviver nele, para que nele continue a passar entre os homens fazendo o em, consolando os aflitos, sustentando os fracos, iluminando os cegos, socorrendo os pobres, ajudando os humildes, dando a todos amor e verdade. Eis a que visava o Apóstolo, ao dizer: “ Por toda a parte levamos sempre no corpo os sofrimentos de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” (2 Cor 4,10).
Celebrar o Cristo ressuscitado é ter olhos novos para ver o novo acontecendo onde a vida está brotando: esperança que volta a um coração desanimado; o desprendimento de muitos voluntários que se dedicam aos mais variados serviços; o crescimento na direção de todos terem maior consciência de sua responsabilidade na paz, na vida, na preservação do ambiente.
Tudo isso ganha mais importância quando deixa de ser apenas um gesto humanitário, para se tornar também um compromisso cristão com a vida que vence a morte. Celebrar a Páscoa é, portanto, comprometer-se de novo e de forma nova com o resgate da vida em todas as manifestações.
Prof. José Pereira da Silva