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quinta-feira 16 janeiro 2025
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Fé e Razão – Palavras que nos fazem viver

Na Rússia, no século XIII, foram abandonadas crianças, tendo sido dada a ordem de as deixar viver na floresta, onde encontrariam alimento, mas sem lhes ser dirigida a palavra, sem lhes dar sinais de afeto. Morreram todas.
Somos humanos porque nos é dirigida a palavra e porque falamos. Na maior parte do tempo nós falamos, e as palavras servem-nos para viver em conjunto; mas interiormente cada palavra tem uma ressonância, acende imagens e pensamentos, forja emoções e sentimentos.

Cada expressão, quando chega a uma pessoa, causa em que a escuta uma vibração psicológica.
As palavras são como pedras lançadas a uma poça: mesmo a mais pequena entre elas provoca um frêmito da superfície da água.Por isso é bom prestar atenção quando se fala. Antes de tudo evitar os tons apodíticos, perentórios (definitivo): respeitar a pessoa que escuta e a sua dignidade. Evitar palavras que nos fazem parecer pessoas que dão ordens, expressões que tiram a responsabilidade aos outros, negam aos outros o discernimento e a livre decisão.
Assim a comunicação se despoja da possível carga de agressividade e pode acontecer na mansidão.

Mas há outros perigos na linguagem, a começar pelo uso de uma linguagem dúplice, de palavras contrastantes com os sinais ou vice-versa. Ter palavras e comportamentos contraditórios, em particular com as crianças, instila-lhes a desconfiança.

As palavras é o único meio que se tem para pensar acerca de quem somos e do que o mundo pode ser.
Outro perigo é o de falar do outros quando falamos de nós próprios. É fácil esta patologia que projeta sobre os outros as nossas necessidades e os nossos sentimentos.

O outro é o outro, e mesmo no amor mais forte o respeito é fundamental.

A necessidade do outro e o desejo dele não implicam cegá-lo. Estamos juntos para fazer o bem, para nos tornarmos melhores.

Cada pessoa tem a responsabilidade de tornar o outro melhor e nunca pior. É saudável que a pessoa se vigie a si própria para que a sua linguagem não se torne negativa.

Pelo contrário, é bom comunicar o essencial, mas narrando o mundo e aquilo que se vive. Transmitir a verdade, a beleza e os significados possíveis da vida: é uma obra de esperança e confiança no mundo. As palavras querem ser histórias.

Como recordava com sabedoria o escritor Gabriel García Márquez (1927-2014): “A vida não é aquela que se viveu, mas aquela que se recorda e como é recordada para ser narrada”.

Prof. José Pereira da Silva