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sexta-feira 8 novembro 2024
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Fé e Razão – O centenário da morte de Max Weber: a dimensão ética da política

Política é reencontro, não é moral. Consequentemente, quem se quer ocupar da política deve estar consciente de que ela é competição, e que a ela é inerente uma dimensão agônica que estabelece o declarado objetivo da derrota do adversário. Mas esta dinâmica pressupõe um agir impudente, sem escrúpulos, que elimina toda a forma de respeito em relação ao outro?
Esta interrogação fundamental, Max Weber(1864-1920) , um dos pais da sociologia moderna, de quem, a 14 de junho, se assinalou o centenário da morte, declara uma resposta clara e consciente: a vitória, em política, uma vitória completa e autêntica, só se pode obter através da salvaguarda de um código ético que contemple a plena conformidade às leis, a qual, por seu lado, é garantida da tutela dos valores essenciais em que se inspira e de que se alimenta o tecido social e civil.
A dimensão ética, portanto, eleva-se a paradigma inamovível num contexto, como o da política, onde geralmente os atores tendem a virar as costas à disponibilidade para a escuta e à vontade de diálogo.
Considerado um dos pais fundadores da sociologia moderna, Weber concentrou grande parte da sua investigação ao desenvolvimento do capitalismo.Weber, em relação a Karl Marx, atribuía menor importância ao conflito de classes por considerar que as idéias e os valores influem sobre a sociedade da mesma maneira que as condições econômicas.
Weber reconhecia o caráter do capitalismo moderno no racionalismo econômico, concebido como uma parte nevrálgica de um mais geral processo de racionalização que comporta a pragmática organização da empresa, a tendência para o lucro, a elaboração de balanços preventivos e consultivos, e, ao mesmo tempo, o emprego do trabalho livre e a existência de um mercado livre. Juntamente com estes elementos, o sociólogo e filósofo alemão apontava um fator definível como o “espírito do capitalismo”, ou seja, uma mentalidade econômica que mergulharia as raízes no terreno da religião.
Numa das suas obras conhecidas, “A ética protestante e o espírito do capitalismo”(1904-1905), Weber sustenta que a religião é uma das razões pelas quais as culturas do Ocidente e do Oriente se desenvolveram de maneira diferente, e sublinhava a importância de algumas características do protestantismo ascético, que, segundo o sociólogo, contribuíram para o nascimento do capitalismo, da burocracia e do Estado racional e legal nos países ocidentais.
Um aspecto conhecido por poucos, e que no entanto se reveste de relevante significado, diz respeito à importância conferida por Weber ao jornalismo. Numa conferência realizada em Munique em 1918, o sociólogo , com uma linguagem firme e perentória, sublinha que “nem todos tem bem claro que escrever um bom artigo comporta um empenho intelectual igual aquele que é requerido a um acadêmico que se cimente no conseguimento de um grande objetivo”.
Nesta perspectiva, o elogio tecido por Weber em relação ao jornalismo enche-se de um valor ainda mais significativo, tendo o sociólogo compreendido bem o precioso e ativo contributo que podem dar, para o bem e para o progresso da sociedade, a caneta e a mão de quem a move.

Prof. José Pereira da Silva