O Natal tornou-se ao longo do tempo uma festa incontornável, quer se seja ou não uma pessoa de fé.
Deus se faz carne e habita entre nós ( Jo 1,14) O menino Jesus, cresceu no seio de Maria, alimentando-se da matéria da mãe por meio de um cordão umbilical semelhante ao meu, ao teu. O menino, já nascido, já respirando ar, bebeu leito do seio de Maria. O Menino é, precisamente, como diz Mateus, “Emmanuel” (Mt 1,23), “Deus Conosco”. Mas não apenas “conosco”, mas da nossa carne, fazendo , assim que incarnou, que passássemos a ser da sua carne.
Até à encarnação do Verbo, o ser humano era de carne humana, mas após a encarnação do Verbo, o ser humano passa a ser carne de Deus, pois Deus acabou de assumir a carne humana.
O Natal não é uma festa individual; é toda a Igreja que através do mundo acolhe Cristo com a mesma fé. Não há fronteiras: a liturgia convida-nos a entrar neste grande mistério de Deus feito homem, salvador de todo ser humano, convida-nos a estarmos presentes neste acontecimento único.
No Natal fazemos a experiência de sermos amados por Deus, que quis vir morar no meio de nós para nos salvar. Celebramos com alegria o encontro do com o humano, a aliança que Deus faz conosco. A glória do Senhor nos envolve em luz e ilumina as nossas sombras de morte. Exultamos de alegria num canto de glória a Deus que habita o mais alto dos céus e que está no meio de nós, nos amando e nos entregando a Paz que é seu próprio Filho.
Preparemos então a casa e o presépio como preparamos o espaço para receber alguém que nos visita e que nos dá a felicidade de acolher.
Em família reservemos tempo para olhar o ano que passou, para dar graças por esse crescimento individual, familiar e coletivo: os perdões possíveis, as reconciliações acolhidas, os medos ultrapassados, as alegrias familiares, dos amigos… e todos os projetos por concretizar. Cristo vem sem cessar para o meio de nós.
Ousemos nomear as mágoas e as perdas, depondo-as nas mãos de Deus, Ele que vem para consolar o seu povo, Ele que as conhece e não esquece nenhuma.
Não podemos acolher Jesus Cristo sem trazer em nós os outros seres humanos. Para esse efeito, cada pessoa poderá encontrar a maneira de tornar presente os ausentes: pequenas luminárias, nomes escritos em torno do presépio, fotografias daqueles que nos deixaram, um mapa-múndi para confiar a Deus aqueles que ainda não conhecem ou que são perseguidos em seu nome.
Não basta reunir as condições exteriores de felicidade para se ser realmente feliz: a verdadeira alegria, profunda, duradoura, nasce da relação: com Deus, com os outros , consigo próprio.
Ao contemplarmos o Menino, absolutamente frágil, mas todo-poderoso como dom absoluto de caridade divina, pensemos em como fazer da nossa carne a sua carne, em como transformar cada um de nossos atos na carne em caridade.
Como disse o Cardeal Raniero Cantalamessa: “ Deixar Jesus nascer significa deixar morrer o próprio eu, ou ao menos renovar a decisão de não mais viver para nós mesmos, mas por Aquele que nasceu, morreu e ressuscitou por nós”.
Natal é a caridade e a caridade é o Natal, não apenas o Natal de Jesus, mas o nosso Natal de cada ato em cada ato de caridade, abençoada carne do amor. No coração de cada pessoa deve ter espaço para Jesus nascer e nos renovar para que sejamos homens novos, como disse São Paulo: “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo! ( 2 Cor 5, 17). Tarefa de toda uma vida!
Um Santo e abençoado Natal!
Prof. José Pereira da Silva