O ser humano tem uma inquietação primordial da própria existência. Uma inquietação pelo sentido. Inquietação que uma força e fragilidade que porém pode nos abrir a uma claridade maior.
O ser humano é inquieto, quer as coisas antes de as termos; queremos já; e a vida não é assim. Essa inquietação faz mal. Existe também inquietações positivas e construtivas. A inquietação deve ser transformada em disponibilidade para acolher as surpresas não esperadas. Aquela em que tudo que acontece acaba por ter um reflexo na profundidade do coração: dias de alegria, momentos sombrios entre outros.
O Evangelho nos lembra: “ Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”( Mt 6,21). Pois onde está o meu tesouro, aí estão a minha confiança, a minha segurança. Onde está suas inquietações? Talvez aí esteja o que atravanca. É preciso rupturas. O coração deve ter orientação senão se perde nas inquietações da vida. Alguns bens que julgamos importantes na aparência geram inquietação sufocante.
A inquietação pode causar um mal estar psicológico. O que traz perturbação. O cotidiano das pessoas muitas vezes se desorganizou, e fica difícil para muitas pessoas reestruturar o tempo de forma diferente, tempo acelerado. Inquietação diante das interpelações da humanidade. Inquietações que geram desorientações. Inquietação que causa confusão na condução da vida.
As pessoas estão sempre em movimento, pensando que estão em todo lugar ou lado, e na realidade não está em lugar nenhum. A mente vagueia para muitas metas e quantas energias perdidas.
A inquietação traz muitas perguntas existenciais por deveria trazer. A inquietação consciente ou inconscientemente coloca-nos da necessidade de compreender de que maneira vive esse tempo em que vivemos.
Em nome da independência confundida com a autonomia, muitos pretendem decidir sozinhos em cada questão.
Precisamos das inquietações diante dos grandes silêncios culturais no qual não existe interrogações ou dos simulacros no qual o sujeito não se coloca em causa. O sujeito se vê numa fragmentação podemos dizer ôntica.
A inquietação é também poder escutar e se escutar diante do mal estar pessoal e comunitário. Como lidamos com os nossos problemas e conflitos? A inquietação tem á dinâmica de perscrutar novos horizontes e criar novos instrumentos de análise.
A inquietação diante da tarefa humana, ou seja, como buscamos um sentido para a vida que não seja bloqueador e rancoroso? Trata-se de salvaguardar o sentido da existência humana. Como é gerida as crises, as mudanças?
A inquietação impele a procura, a colocar-se a caminho, a entender que certas respostas são insuficientes, exige sair do horizonte habitual. Diante de uma sociedade com tantos simulacros e ilusões é urgente outro modo de pensar e de viver com maior dignidade humana. Inquietação para distinguir o interior da aparência.
A inquietação interior e psíquica pode fazer mal no início pois desliga-nos deter das rotinas cotidianas, dos caminhos óbvios e nos leva a perceber as surpresas da vida. A inquietação nos obriga a ver e ir além de nós mesmos e sentir os pormenores da vida em sua essência. O filósofo Soren Kierkegaard (1813-1855) nos fala da inquietação da esperança o que nos lembra da importância de alargar sempre mais as fronteiras inquietantes da esperança.
Prof. José Pereira da Silva