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domingo 24 novembro 2024
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Fé e Razão – Felicidade um segredo escondido no fundo de nossas almas

Uma das páginas mais belas dos evangelhos é sem dúvida o Sermão da Montanha: as bem-aventuranças (Mt 5,1-12).
Sem dúvida, para a sociedade distraída e superficial como a nossa, o discurso de Jesus pode parecer incompreensível. Pois se criam bem-aventuranças muito diferentes.

Julgamos a grandeza de um homem pelo seu sucesso, pela sua fama, pela sua riqueza e pela aparência. E, não obstante, mesmo o homem que tudo possui vive na inquietação e muitas vezes na infelicidade.

Pascal (1623-1662) escrevia: “Alguns dizem: entrai em vós mesmos; é ali que haveis de encontrar vossa tranqüilidade. Mas isto não é verdade. Outros afirmam: sai de vós próprios; procurai a felicidade divertindo-vos. E também isto não é verdade. Chegam as enfermidades. A felicidade não está fora, nem dentro de nós; está em Deus: fora e dentro de nós”.

Somente quando conseguimos criar essa harmonia e este equilíbrio, alcançamos a verdadeira bem-aventurança e a autêntica felicidade.

A felicidade é aquilo que se ama. A felicidade não consiste em fazer o que se ama, mas em amar aquilo que se faz! A alegria é a felicidade da alma.

É necessário dar razão àquela pessoa que disse: “Muitos homens vivem felizes, sem saber que o são” (Vauvenargues). Não raro, o homem vive fora de si, lançando-se sobre as coisas, enquanto ignora que a chave da felicidade está ao alcance de sua mão. Aliás, ignora que a tem dentro de si mesmo, na sua própria consciência e coração.

Trilussa já dizia: “Em síntese, a felicidade é uma pequena coisa”. A verdadeira felicidade nunca é exagerada ou rude, mas é serena e confia nas pequenas coisas, que constituem o tempero da existência.

Todos procuram realizar coisas grandes e não se dão conta de que a vida é feita de pequenas coisas. Então, aceitemos este conselho: “Regozija com as coisas pequenas, porque um dia olharás para trás e compreenderás que elas eram grandes!”.

Uma escritora norte-americana afirma: “Se quiseres ser feliz durante um ano, ganha na loteria. Se desejares ser feliz para sempre, ama aquilo que fazes!”.

A vida é o dom mais precioso que cada um recebeu de Deus; mas nem sempre sabemos viver bem. E quando não sabemos viver bem não somos felizes e não fazemos os outros felizes. A pior derrota que podemos sofrer será viver mal. O prazer dura um instante e passa, na maioria das vezes deixando gosto de morte; a felicidade é a alegria do espírito, que quando passa deixa sabor de vida.

A vida é como jogar uma bola na parede: se for jogada uma bola azul, ela voltará azul; se for jogada uma bola vermelha, ela voltará vermelha. A vida não dá nem empresta; não se comove nem se apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós lhe oferecemos. O sábio provérbio diz que quem planta ventos colhe tempestades.

Há muitas caricaturas de felicidade espalhadas pelo mundo; por isso muitos homens e mulheres são infelizes e já não sabem mais o que fazer para viver bem. A sociedade muitas vezes incentiva o prazer desordenado que depois que passa deixa gosto de morte; a alegria, porque é espiritual, não morre, e deixa gosto de vida. O caminho da felicidade é outro.

A felicidade mora numa vida equilibrada, pautada pela virtude, dedicada a fazer o bem aos outros desinteressadamente. Este é o princípio simples da saúde e da paz.

A felicidade verdadeiramente autêntica, que o vento não leva, que os acidentes da vida não matam… é aquela que nasce quando construímos a nós mesmos e damos sentido à nossa vida e à do outro.

Deus é perfeitamente feliz e nos fez para a felicidade; mas este é um segredo escondido no fundo de nossas almas, e por isso muitos não o encontram.

As bem-aventuranças propostas por Cristo ensinam-nos a contentar-nos com as pequenas coisas, com o ser e não tanto com o ter. Aprendamos a possuir um coração puro e reto, a alma livre e um amor incondicional. Assim, sentir-nos-emos imensamente mais felizes e mais livres.

A vida é mais bela do que suas dores, desafios, incompreensões e crises; mas para isso é preciso entender o seu sentido.

Prof. José Pereira da Silva