A pessoa humana tem uma unicidade irrepetível que se origina da combinação dos genes do pai e dos genes da mãe. A partir do assento biológico, a identidade pessoal é uma construção psicossocial que abrange integralmente o ser humano, destacando principalmente nos seis primeiros anos de vida.
A pertença familiar faz muito mais do que situar uma pessoa na sociedade, dando-lhe nome e sobrenome, pais e parentes, nacionalidade etc. A perturbação deste arranjo familiar nunca é inofensiva, como atestam as crianças de lares desfeitos. Tudo gera tensão psíquica, de violência interior e exteriorizada, de conflitividade num lar que deveria ser o abrigo contras perturbações vindas do mundo exterior.
Não apenas as doenças psíquicas, mas também outras enfermidades orgânicas e especialmente a dependência de entorpecentes tem, na maior parte das vezes, origem em perturbação do ambiente familiar.
O insucesso escolar acusa frequentemente a mesma raiz, isto é, su relacionamento com nível econômico-cultural dos pais importa, mas é redutor se não se levar em conta o clima de cordialidade ou de conflitividade que forma o meio do desenvolvimento da criança ou do adolescente.
Revela-se primordial também a falta do pai, introjetor natural da norma, isto é, da diretividade que dá sentido à vida humana. O clima de extrema permissividade, que pretende queimar as fases da aprendizagem, em que a criança e o adolescente precisam ajuda para a própria autocrítica construtiva e a formação da consciência madura, tem repercussões ruins a médio e longo prazos. Em nossa época, que multiplica os paradoxos, a adolescência parece desaparecer.
A educação escolar é prolongamento e não substituição da educação familiar. É utópico pretender a autonomia da escola em relação a seu contexto de população e famílias: se os pais tem perdido a partida no tocante a um mínimo de disciplina sobre seus filhos, os professores só podem constatar sua impotência no desempenho de suas funções educativas. O respeito aprende-se em casa ou nunca. Quem não respeita seus pais não respeitará seus professores.
Os filhos de famílias abastadas podem frequentar psicanalistas ou outros profissionais do psíquico, para compensar desajustes que tem origem na constelação familiar mais do que na índole individual. Sem a cooperação familiar, professores, assistentes sociais e escolas são quase impotentes, carecendo sua função de base de apoio.
Prof. José Pereira da Silva