Muitas crises de sentido nascem das inquietações humanas em várias etapas e circunstâncias da vida. A crise de sentido está muitas vezes ligada a busca do próprio sentido da vida. A crença no poder do homem mostra-se insuficiente diante de problemas existenciais profundos.
Os problemas existenciais que influenciam na percepção do sentido da vida passa por como se vivencia a situação interior. Quais são os valores estão presentes na subjetividade de cada pessoa. Trata-se de buscar e encontrar um sentido pelo qual viver. Como dizia o neuropsiquiatra Viktor Frankl (1905-1997): “ …indivíduos dispõe de recursos para viver, mas não de um sentido pelo qual viver”.
A espiritualidade é um caminho de encontro do sentido da vida. É imergir no mistério divino. É a partir do mais profundo de si mesmo fazer uma experiência do divino.
Falar em espiritualidade é se referir também a mística. Todo místico ou mística estabelece um profundo e significativo relacionamento com Deus.
Toda pessoa pode fazer essa experiência que é humana. Deus está no mais profundo de cada pessoa. Cada ser humano tem uma intuição íntima de Deus. Essa experiência de intimidade com Deus pode ser feita no cotidiano de cada pessoa.
A espiritualidade é sempre uma obra interior. É um processo gradativo, exige constância e tempo.
Lemos no Salmo 139, 7-10: “Para onde fugirei longe do teu sopro? Para onde fugirei, longe de tua presença? Se subo ao céu, tu aí estás. Se me deito no abismo, aí te encontro. Se levanto vôo para as margens da aurora, se emigro para os confins do mar, aí me alcançará tua esquerda, e tua direita me sustentará”. Qualquer ambiente ou situação é espaço para a experiência do mistério de Deus. Mistério que jamais pode ser esgotado pelo ser humano. Mistério que passa na vida humana.
Sempre quem faz a experiência de Deus é uma pessoa em sua integralidade. É sempre entender e recuperar o ser humano que se relaciona com Deus contudo que o constitui.
O ser humano que faz a experiência de Deus é situado numa realidade que o contextualiza. Portanto se relaciona com seu meio, interage com outras pessoas e jamais pode ser alienado dos sofrimentos humanos.
A espiritualidade deve ser sempre encarnada para que tenha real significado humano e na vida de cada pessoa. Deve ressoar na existência cotidiana trazendo sentido e transformação. A espiritualidade deve ser sempre um caminho de abertura a Deus que se faz presente na história de cada pessoa e de toda a humanidade.
A espiritualidade deve alimentar a vida de quem trilha esse caminho. Deve renovar as pessoas, ter um espírito novo para renovar todas as coisas. Ter espiritualidade é entrar na dinâmica de Deus. É também a pessoa entrar na dinâmica profunda de seu ser que é abertura ao transcendente. A espiritualidade madura é caminho de realização e de encontro de sentido. É uma maneira de ser que repercute concretamente na vida cotidiana.
A espiritualidade deve tornar cada pessoa profundamente humana. Isso é fundamental numa sociedade muitas vezes marcada pelo individualismo, auto-suficiência e relações calculistas. A espiritualidade é amor que se transforma em gestos concretos que humaniza a pessoa e a sociedade.
Prof. José Pereira da Silva
