A palavra Advento vem do latim e significa Vinda. Este tempo que agora iniciou é, pois aquele que está centrado na vinda do Salvador, Jesus, o Filho de Deus e de Maria.
A espiritualidade do Advento, tempo litúrgico que se prolonga até 24 de dezembro, é assinalada pela recordação da primeira vinda de Jesus, há mais de 2 mil anos, ao mesmo tempo, que nos preparamos para celebrar esse nascimento, na celebração do Natal.
O Advento caracteriza-se também pela expectativa da vinda definitiva de Cristo. Não sabemos quando é, nem é isso que nos interessa, para não nos marcarmos pelo medo e pela angústia de que Ele vem para julgar todas as coisas, mas para vivermos nesta dimensão de abertura, percebendo que o tempo que vivemos não é definitivo.
Até 16 de dezembro, os textos proclamados na Liturgia orientam os fiéis para uma atitude de vigilância, enquanto que a partir do dia seguinte ajudam-nos a preparar de modo mais imediato a celebração do Natal, realçando a ternura do Menino que nasce para nós.
É nesta aproximação ao nascimento de Jesus que se enquadram as Antífonas do Ó, inspiradas no Magnificat, texto bíblico de ação de graças enunciado por Maria no Evangelho e que é rezado todos os dias na Igreja Católica na oração de Vésperas. O nome destas antífonas cantadas entre 17 e 23 de dezembro, deve-se ao fato de começarem pela invocação “Ó”, a que se segue uma palavra definidora de um dos atributos de Jesus – por exemplo – “Ó chefe da casa de Israel”, “Ó bandeira dos povos”.
O tema do ò ligou-se à espiritualidade mariana, já que Maria é a figura que melhor nos ajuda a preparar o Natal porque acolhe o filho de Deus no seu seio.
A certeza transversal a todo o Advento, de que Cristo vem continuamente para nos visitar e nós devemos abrir-lhes o coração para o acolher, é acentuada por dois dos refrães cantados durante este tempo litúrgico: “Descei Senhor Jesus dos altos céus, vinde trazer ao mundo a paz de Deus”; e: “Ó nuvens chovei do alto, e apareça a salvação que Deus nos traz em humano coração”.
O Advento é uma caminhada íntima, pessoal e coletiva. De espera do Salvador e, para um grupo humano, uma comunidade, de espera em conjunto Aquele que vem.
É uma espera que deixa espaço à surpresa. Deus não vem como quero, quando quero, da maneira que eu desejo que chegue à minha vida.
A única atividade que devo realizar é de me desimpedir para lhe deixar o lugar para nascer em mim, segundo o seu projeto e não segundo meus planos. Não é uma espera passiva.
Viver cristamente o Advento é deixar de crer que se pode ter mão no tempo, que se pode controlá-lo. É deixar-se ir, ousar entrar no tempo das lentas maturações.
Neste tempo tão marcado pelo frenesim das preparações práticas do Natal, das compras e até de um certo desgaste por tantas festas e jantares natalícios, é importante que nos resguardemos. E a liturgia e uma espiritualidade podem ajudar-nos nisso.
Prof. José Pereira da Silva