Existe uma escassa importância dada na aprendizagem ao despertar para a beleza está ligada a uma concepção muito utilitária da educação, que visa antes de tudo transmitir conhecimentos, métodos, rigor. Forma-se o espírito e dá-se uma educação moral esquecendo a sensibilidade.
Daqui a importância da educação dos sentidos: aprender a ver, escutar, tocar, saborear, a acolher esta experiência algo profunda de si e dos outros que passa pela sensação, para descobrir que se pode ter prazer em ver coisas belas.
É uma educação para a sensação, mas também para a sensibilidade interior, quer dizer não se trata apenas de sentir, mas também de ressentir, de estar atento às nossas emoções e ser capaz de as nomear: aquilo agrada-me e dá-me prazer, ou, ao contrário, aquela outra provoca desprazer.
Esta educação para a beleza pode traduzir-se concretamente na família desde logo ao tomar consciência do contexto onde as crianças vivem. Por vezes há a tendência de dizer que a beleza é um luxo reservado a uma elite, e que não faz parte das coisas essenciais da vida através das quais uma pessoa acredita que se pode desenvolver.
É preciso abrir a vida dos mais pobres a esta dimensão. Não é uma questão de dinheiro nem de luxo, mas de qualidade, que vai alimentar o sentido daquilo que é bem feito, e estimula na pessoa o desejo de se aperfeiçoar.
A criança precisa também de nós para enriquecer as suas experiências, para a colocar em contato com belas paisagens naturais, fazê-la deter-se num rosto, numa música, numa obra de arte.
Numa época muito marcada pela urgência e o consumo, é importante reservar tempo para lhe fazer verbalizar as suas emoções: sinto-me bem, o dia está bonito, parar, respirar, descrever o que se ressente. É por este caminho que se entra na dimensão da contemplação e que há abertura à admiração e o louvor.
A beleza suscita o desejo. E não se consegue a moção de quem não é capaz de se emocionar. É uma das facetas pelas quais o absoluto se dá a ser apreendido neste mundo. Ela vem tocar-nos no sensível, religando a nossa intimidade e uma fração do mundo que de repente faz sentido. Esta experiência que nos conduz ir procurar de onde Ele vem. Ao contrário do estetismo, que tende a fechar-se em si próprio, a experiência da beleza é um caminho para Deus.
A beleza não é o bonito, é o que faz com que uma forma se deixe transfigurar pela luz. Quando se olha um vitral do exterior, é opaco e sem cor. Mas quando é contemplado do interior, habitado pela luz, fica completamente transfigurado. Veja-se o retábulo de Issenheim do pintor alemão Matthias Grunewald, que se encontra no Museu de Unterlinden de Colmar, Alsácia, França: numa face temos Cristo torcido de dor, e na outra o mesmo Cristo resplandecente na glória da ressurreição.
O sentido da beleza educa-se, não através de apreciações prontas para consumir – é belo, não é belo -, mas aprendendo a ver, a escutar, a contemplar.
Educar o sentido da beleza é cultivar a atenção e a admiração. Porque a beleza só se dá àquele que sabe reservar tempo para a saborear.
Pode-se visitar-se os mais belos museus do mundo ou multiplicar as viagens a lugares excepcionais, e ainda assim passar ao lado da beleza e não a perceber, por não se ter sabido parar para se deixar “domesticar” por ela. Se se olha para uma obra de arte de passagem, dir-se-á talvez gosto ou não gosto, mas não se saberá nada da sua beleza. O mesmo se nunca se ouve música sem a ela se consagrar inteiramente, se a música não for mais que um fundo sonoro para habitar o silêncio.
Prof. José Pereira da Silva