Em todos os dias do ano, a Igreja celebra a Eucaristia. Oferece-a a Deus em sacrifício de louvor, aos fiéis a distribui em alimento, e nos tabernáculos a conserva, a fim de que Cristo, presente no Sacramento, seja o centro e sustentáculo da vida deles. A solenidade deste dia não é tanto a lembrança da instituição deste Sacramento, quanto a celebração de um mistério sempre vivo e atual.
No início (Missal Romano de 1570),era denominado festa “do Santíssimo Corpo de Cristo”.O Vaticano II conservou a solenidade,complentando-a.O Missal de 1970 a denomina “Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo”,significando assim a realidade integral do sacramento da Eucaristia.
Embora pareça uma duplicação da Quinta-Feira Santa,dia da Instituição da Eucaristia,a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é um eco da última ceia do Senhor com os seus discípulos.
São Paulo escrevendo aos Coríntios ( 1 Cor 11,23-26) fala do mistério eucarístico,celebrado pelo Senhor na última ceia.É um testemunho histórico de valor,uma vez que é um texto muito próximo ao acontecimento da instituição da Eucaristia feita por Jesus Cristo.
Celebrar a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo nos coloca em sintonia profunda com o mistério da Páscoa do Senhor Jesus Cristo, Deus que se fez corpo, carne. Ele assumiu a nossa realidade (menos o pecado), a nossa história, as nossas lutas.
Jesus Cristo se fez corpo entregue e sangue derramado. A carta aos Hebreus aplica a ele o Salmo 40: “Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo (…) Por isso eu digo: Eis-me aqui – no rolo do livro está escrito a meu respeito -, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,5-7).
A palavra do evangelho, lida nesta festa, apresenta justamente Jesus ocupado e preocupado com as necessidades do povo, que, de acordo com outro evangelista, parecia “ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).Ele não apenas se torna o pão da vida para o povo, mas também leva o povo a se organizar para alcançar a sua própria libertação.
A solenidade de hoje, eco da celebração da Quinta-feira Santa, nos faz experimentar, de forma mística e concreta, o mistério da entrega do Senhor Jesus. De fato, somos saciados fartamente pelas mesas da Palavra e da Eucaristia. No admirável sacramento, memorial da paixão do Senhor, não somente veneramos o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, mas comemos e bebemos com ele, nele e por ele.
“Pela comunhão nesse sublime sacramento, a todos nutris e santificais.
Fazeis de todos um só coração, iluminais os povos com a luz da mesma fé e congregais os cristãos na mesma caridade. Aproximamo-nos da mesa de tão grande mistério, para encontrar por vossa graça a garantia da vida eterna”.(Prefácio II).
Participar da Eucaristia, memorial vivo da entrega de Jesus, deve provocar em nós ações como as de Jesus. Celebrar em memória dele significa fazer o que ele fez – ser alimento para a vida do mundo.
Prof. José Pereira da Silva