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domingo 24 novembro 2024
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Fé e Razão – Corpus Christi: Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

A comemoração de Corpus Christi ocorre após a festa da Santíssima Trindade, sempre em uma quinta-feira, em alusão à Quinta-Feira Santa, quando se deu a instituição da Eucaristia. Ao celebrarmos a Eucaristia, ouvimos o sacerdote dizer: “Isto é o meu corpo; isto é o meu sangue” e recordando as Palavras de Jesus na Última Ceia. Contudo, nem sempre tomamos consciência da profundidade desse mistério.

Em todos os dias do ano, a Igreja celebra a Eucaristia. Oferece-a a Deus em sacrifício de louvor, aos fiéis a distribui em alimento, e nos tabernáculos a conserva, a fim de que Cristo, presente no Sacramento, seja o centro e sustentáculo da vida deles. A solenidade deste dia não é tanto a lembrança da instituição deste Sacramento, quanto a celebração de um mistério vivo e atual.

Não é a Eucaristia alimento material e, sim, espiritual, verdadeiro Corpo e verdadeiro Sangue de Cristo oferecido ao cristão como viático de sua peregrinação terrena. É o “pão nosso de cada dia” que deveriam os fiéis pedir e comer diariamente, mais desejosos e famintos dele do que do pão material.

É o que nos levam a refletir as palavras de Jesus no Evangelho de São João: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem come deste pão viverá eternamente, e o pão que eu darei é minha Carne para a vida do mundo” (6,51).

Tão vivificante é o pão da Eucaristia, que se torna gérmen e penhor de vida terna, justamente por ser o Corpo daquele que é “a vida” (Jo 14,6). Mistério da fé, proclama a Igreja cada vez que consagra a Eucaristia. Mistério da fé, há de repetir o cristão, cada vez que se aproxima para recebê-lo.

Devemos aproximar-nos e comer. “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e eu nele…Quem me come ,viverá por mim”(Jo 6,56).

A Eucaristia é fonte de comunhão também entre irmãos. “Porque há um só Pão, somos um só corpo; embora muitos, participamos todos deste único Pão” (1 Cor 10,17). Assim como o Pão eucarístico é um só – Corpo de Cristo – assim os que dele participam formam, por sua vez, um só corpo, a Igreja, Corpo místico de Cristo. Na Eucaristia, Deus nos recria, nos renova a identidade divina.

A manifestação do amor de Deus no sacramento da Eucaristia constitui a comunhão no mistério pascal de Cristo e com toda a obra divina realizada nesse mistério. A ação eucarística é transformadora da realidade pessoal e social dos que, no sacramento pascal, se unem a Cristo. Estes tornam-se pessoas eucarísticas, com-formadas com Cristo e o seu projeto do reino.

Daui, a dimensão de universalidade da vida cristã eucaristizada. Cada ato de caridade é expressão da universalidade de Cristo e do seu Espírito agindo em nós e por nós.

A comunhão no Corpo de Cristo só é verdadeira na comunhão com o próximo. Por ele temos uma responsabilidade vital, no sentido material e espiritual, uma responsabilidade eucarística.

Tal é a conseqüência da encarnação de Cristo e o fato de Ele ter permanecido conosco na forma do pão eucarístico. Assumindo a forma criatural, Cristo elevou toda a criação; inserindo-se em nossa história, abriu caminhos de reconciliação e plenificação de toda a realidade; oferecendo-nos seu Corpo como alimento, transforma-nos e transfigura-nos à sua imagem, que é imagem de Deus. E forma-se, assim, a comunidade cristã, o Cristo total, Igreja e Seu Corpo. Nela, Cristo realiza uma transformação humana e cósmica pela qual toda a criação é ordenada à plenitude do seu Corpo, e todo o universo entra na plenitude de Deus vivendo a experiência do Reino.

A Eucaristia é sacramento da presença real do Senhor, ela é a perpetuação do sacrifício da cruz, ainda que de forma mística ou inexprimível. Santo Agostinho nos diz que a Eucaristia não é compreensível se não for dentro da própria comunhão, comunhão no sentido dessa global união, comum + união realmente entre todos os que dela participam, comunhão que contagia a sociedade (1 Cor 11,17-34).

Devem, portanto, os cristãos tirar da Comunhão eucarística o fruto de mais intensa comunhão com os irmãos.

Prof. José Pereira da Silva