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domingo 23 março 2025
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Fé e Razão – Construção da Subjetividade: a verdade do que somos e o outro

O ser humano tem relações internas e externas e pressupõe o diverso, o outro, que une o diversos e distingue os unidos.
O tema da subjetividade e do outro sempre inquietou o ser humano. Para alguns uma presença incômoda como dizia o filósofo Jean Paul Sartre( 1905-1980): “ O inferno são os outros”, para outros ao contrário o outro é lugar ético, cujo o rosto do outro nos devolve a verdade do que somos.
O filósofo Emmanuel Lévinas (1906-1995) em sua reflexão dizia: “ o Outro, absolutamente Outro – Outrem não limita a liberdade do mesmo. Chamando-o à responsabilidade, implanta-a e justifica”.

É preciso compreender que o outro não é e nunca foi um opcional do nosso viver. Não existe experiência humana isenta do outro. Toda existência propriamente humana é sempre uma co-existência.
A subjetividade humana é sempre e deve ser inter-subjetividade.
Ninguém nasce no isolamento, mas sempre no encontro de dois outros. Se nasce fazendo família com outras pessoas.
Ninguém nasce apenas para fazer união consigo mesmo, mas para a comunhão com outros .

Portanto existe uma dialética da vida entre o eu e o tu, que nos ajuda a sermos nós próprios. Como dizia Aristóteles somos animas políticos, ou seja, vivemos com outros, vivemos num espaço em que o outro também habita, é nosso vizinho. Ou segundo os Evangelhos é o nosso próximo. Assim sendo compartilhamos o espaço e a vida.
Somos um ser-com-o-outro, o que exige liberdade e responsabilidade. Somos constantemente nesse dinamismo chamados a consciência dos outros.

Ser-com-o-outro exige um trabalho relacional constante na liberdade de converter o ser-com-o-outro em ser para o outro e respeitando o outro.
Construir a nossa subjetividade comporta a experiência do outro na vida cotidiana. Para descobrir quem eu sou e quem o outro é exige reconhecer a alteridade, ou seja, que o outro é infinitamente diferente.
Existe uma irredutibilidade do outro que deve reconhecer e somos instados a vencer nossos bloqueios, resistências para fugir à tentação de reduzir e transformar o outro numa projeção ou instrumento do eu.

É um trabalho psíquico de descobrir quem nós somos e salvaguardar quem o outro é. Na prática significa entender que o outro não pode ser objetivado, não deve ser reduzir a um objeto à mera disposição do eu. Não pode ser reduzido a um Eu-Isso na expressão do filósofo Martin Buber (1878-1965) e sim reconhecer um Eu-Tu.

Essa experiência da alteridade é fundamental na vida humana. Implica a anteposição do altruísmo (o absoluto do ouro) sobre o egoísmo ( o absoluto do eu). O que exige transcendência, o transcendente me pede para transcender e está presente na relação Eu-Tu. O outro deve ser para nós um infinito que não se esgota facilmente. O outro não é limitável pelo eu. Não podemos coisificar o outro.

A construção da subjetividade exige o outro na sua alteridade, assim temos identidade. Construímos alteridade e identidade.

Prof. José Pereira da Silva