Existe uma pergunta fundamental no coração de cada ser humano de forma implícita ou explicita: a pergunta sobre a eternidade. Como alcanço a eternidade no seio do tempo? Aqui, na contínua mudança do devir e do transcorrer , não há nada de eterno, que permanece; provavelmente há uma vida fora do tempo, indiferente a tudo aquilo que acontece aqui, viver só na eternidade. Trata-se de fugir ao tempo tirano.
Por outro lado, a nossa palavra chama-nos: quereis encontrar a eternidade, então servi agora o tempo. Esta palavra deve ressoar-nos como uma enorme contradição: quereis coisas eternas? Então permanecei no transitório. Quereis coisas eternas? Então permanecei no aqui e agora. Quereis Deus? Então permanecei no mundo.
Parecia que já éramos capazes de subirmos para fora do mundo, através dos degraus de uma escada de virtudes para o céu.
Servi o tempo – porquê? Porque só no tempo encontrareis Deus e a eternidade. É a vontade oculta de Deus que se deixa encontrar no tempo; encontramos a vontade de Deus só em Jesus Cristo. Tudo está sujeito à fugacidade; todavia, em toda a transitoriedade do singular, do indivíduo, está contida uma parte da vontade de Deus, um pedaço de eternidade.
O tempo é como um poço profundo e inesgotável, no qual, através das suas águas, brilha o ouro da fundura nunca alcançada; é como a rocha da montanha através da qual não se vêem os veios do ouro nas profundezas.
Toda a imperfeição,porém, é pelo menos imagem do perfeito, todo transitório é um símbolo do eterno.
Cada instante está dirigido a Deus, afirmou um grande historiador; quer dizer que cada instante oculta um pedaço de eternidade, que deve ser encontrado; Deus governa sobre cada instante. O instante, o presente, é a palavra decisiva. Servi o tempo, quer dizer, cada tempo, isto é, o presente. Por outras palavras, o presente é santo, está sob o olhar de Deus, é consagrado, é iluminado de luz eterna.
O presente é a hora da responsabilidade de Deus conosco, cada presente; hoje e amanhã, o presente em toda a sua realidade e diversidade; há uma só hora verdadeiramente significativa em toda a história do mundo: o presente.
Quem foge do presente foge da hora de Deus; quem foge do tempo foge de Deus.
Somos chamados a mergulhar na indigência do presente. Entrar com todo o amor e toda a força que está à tua disposição. A água do poço do tempo tornou-se turva, de tal maneira que já não vemos o ouro do fundo eterno; façamos de modo que o poço seja de novo puro e límpido, façamos de modo a encontrar um pedaço de eternidade no tempo, escavemos em profundidade, até encontrar as fontes eternas. O amor, contudo, faz parte do serviço como a coisa mais importante; isto é, ama o teu tempo, de maneira a poder servi-lo.
Não nos coloquemos fora dos acontecimentos da modernidade. Todos nós temos a responsabilidade da culpa e da miséria de todos nós, é preciso aprender de novo a compreender o que é a solidariedade no interior da humanidade.
O sentido mais profundo, todavia, revela-se apenas quando consideramos que não só o mundo tem o seu tempo e as suas horas, mas que a nossa própria vida tem o seu tempo e a sua hora de Deus, e que por trás dos tempos da nossa vida tornam-se visíveis os traços de Deus; que os poços profundos da eternidade estão debaixo dos nossos caminhos, e cada passo ecoa um frágil eco da eternidade.
Significa compreender a forma profunda e pura destes tempos para apresentar na nossa conduta de vida; só assim, no meio do nosso tempo, encontraremos a santa presença de Deus. O meu tempo está nas tuas mãos. A minha infância, a minha juventude, o meu tempo de adulto e a minha velhice.
Servi o vosso tempo, a presença de Deus na vossa vida; Deus santificou o vosso tempo; cada tempo, retamente compreendido conduz diretamente a Deus; e Deus quer que sejamos de todo aquilo que somos.
Prof. José Pereira da Silva