O desenho Snoopy, criado por Charles Schulz é conhecido mundialmente. Snoopy é o cachorro de Charlie Brown. O quadrinho da turma de Snnopy e Charlie Brown é um dos mais populares e influentes do planeta.
Snoopy é alegre, contente, seguramente egocêntrico, mas pronto a irradiar a sua energia, a sua positividade para o que quer que seja que o rodeie. Outra personagem é Lucy que é ácida e petulante, totalmente voltada por si mesma. Snoopy e Lucy encarnam respectivamente a fantasia e o realismo, são antípodas. Personagens que precisam um do outro.
Como escrevia o poeta Thomas Stearns Eliot (1888-1965) que o gênero humano não suporta demasiada realidade. Lucy tem certa inveja de Snoopy por sua imaginação e fantasia.
A imaginação é o melhor caminho para a felicidade, e não para a alienação impotente e narcisista. A imaginação é generosa, extrovertida e altruísta, não se detém e não se abate, encontra sempre uma possibilidade. Os extremamente realistas são incapazes de escapar ao seu eu, de partilhar os desejos, é incapaz sobretudo de ver a pureza e a nobreza dos desejos dos outros. Por isso inveja e destrói qualquer anseio, qualquer projeto ideal, qualquer demonstração de alegria que não conhece nem é capaz de compreender.
Snoopy e Lucy aspiram à felicidade. Schulz oferece-nos um ensinamento preciso, que antecipa em décadas algumas conclusões de filósofos e economistas, que, ao estudar a felicidade, procuraram estabelecer variantes mensuráveis ou verificáveis no âmbito social, considerando a felicidade como um bem relacional. Uma pesquisa que se segue à tomada de consciência do fracasso de todas as tentativas de a ligar ao egoísmo da pessoa singular e à satisfação das suas necessidades, a começar pelo dinheiro. Uma geração de lamentos que deixou de saber agradecer.
Esta é a tese de Luigino Bruni, um dos mais famosos economistas italianos: quando aumenta o rendimento, aumentam também as aspirações em relação aos bens que queremos consumir, e isto induz os consumidores a requerer prazeres contínuos e mais intensos para manter o seu nível de satisfação anterior.
Daqui emergem frustrações e insatisfações contínuas que se acompanham inevitavelmente com a inveja dos bens alheios.
É preciso então elaborar, mas sobretudo viver, uma ideia diferente de felicidade, baseada em algo de mais profundo e duradouro, mas que parta de um contato com o outro.
Uma felicidade que se baseia na companhia, na partilha, em dar algo aos outros.
Prof. José Pereira da Silva