A vastidão do mar, a pureza intocável das nuvens, as aquarelas cheias de ternura do crepúsculo e do amanhecer, as conchas simples e misteriosas como a vida , e no horizonte, à distância, o eterno encanto das núpcias do céu e do mar.
Qual o segredo do mar? Os seres falam através de nossa linguagem, da meditação que admira e se comunica, valem-se de nossa alma. Na contemplação o mundo aponta para o além. O mar é símbolo de uma riqueza imensa, de dinamismo perene. É força para se erguer do abismo à medida que as ondas se levantam.
É símbolo do coração humano, símbolo de Deus. Facilmente transpomos a aparência visível das ondas e mergulhamos no mistério insondável do oceano. A praia nunca se cansa de receber o amplexo, a bondade do mar.
Viver é abandonar-se, entregar-se, arriscar-se, afirmar a coragem de amar. O mar tudo transforma, tudo envolve, tudo invade, tudo inunda. A praia é assumida, o encontro é total.
O mar está sempre a caminho, sempre respirando, nunca enclausurado, sempre saindo de sua própria solidão, procurando a alegria do encontro. Este eterno recomeçar. Que sabedoria para nossa própria vida.
O que há de mais belo, de mais profundo, de melhor no ser humano se esconde no poço imenso do nosso coração, no cerne da alma, no oceano do espírito. À medida que mergulhamos no abismo de nós mesmos, sondando a profundeza da alma, escalamos o cume de nossa existência, crescendo além de nossos limites.
O mar é sempre o mesmo, mas diferente em cada onda. A vida é sempre a mesma, mas diferente a cada instante. O ser humano é irredutível, pois cada um é único, inconfundível, original, incomparável.
Viver é relacionar-se afetivamente no mútuo respeito ao universo de cada um. Trazemos em nós sementes de plenitude, o direito fundamental à existência, a dignidade de ser e viver.
O mar em sua essência é transbordamento. Viver é um constante desafio, porque é sempre sair de si mesmo, transformando-se. Não se pode viver isolado de tudo e de todos. Seria a morte, a negação da própria vida. O amor só é pleno se encontra pessoas que dispõem de sua autonomia a serviço da meta comum. O amor não guarda nada para si.
É dádiva de absoluta gratuidade, como o céu, como as flores que exalam o perfume sem pedir nada em troca.
Viver é consagrar-se ao dom da vida, abandonar-se à graça de sua doação. Mar e praia celebram eternamente o mistério do encontro. O mar é mais forte do que a solidão da praia, e a solidão da praia e a saudade do mar. Mar e praia se entrelaçam como o homem e a mulher, como o ser humano e Deus.
O segredo é saber entregar-se a Deus como o mar se entrega à praia, como a praia se entrega ao mar, consagrando o milagre de sua comunhão.
Prof. José Pereira da Silva