Existe um grande mandamento que resume todos os outros: “ Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo”(Mt 22,37-39), resume num verbo: amarás. Um verbo no futuro, pois indica uma ação nunca concluída, que durará tanto quanto o tempo.
Amar não é um dever, mas uma necessidade para viver. E viver sempre. É preciso crê no amor, confiar no amor. Quem se afasta deste fundamento existencial amará o contrário da vida. Amará a morte.
Que devo fazer para ser verdadeiramente vivo? Amarás. Apelo à totalidade, para nós inalcançável. Só Deus ama com todo o coração, Ele que é o próprio amor.
A criatura humana ama de vez em quanto, como às apalpadelas, e com mil contradições. Nos lembra Santo Agostinho a respeito do amor a Deus e que também pode ser aplicado ao amor humano ( 354 d. C. – 430 d.C.) : Ama-o nos dias da luz, e como podes, como consegues, também na hora em que se faz escuro dentro de ti. Sabendo que o amor conhece também o sofrimento. E quem mais ama, prepare-se para sofrer mais.
Existem três grandes objetos de amor: Deus, o próximo e tu próprio. O amor não vigia só nas fronteiras do eterno, mas protege também o umbral de uma civilização do amor.
Amar o ser humano é semelhante a amar Deus. O próximo é semelhante a Deus. O próximo tem rosto e voz, necessidade de amar e de ser amado, semelhantes às de Deus.
Ama-o como a ti mesmo. Ama-te como prodígio da mão de Deus, vida da sua Vida, moeda de ouro cunhada por Ele. Ama parati liberdade e justiça, dignidade, isto amarás também para o teu próximo.
O desejas para ti , fá-lo também aos outros. Porque se não amas a beleza da tua vida, não serás capaz de amar ninguém, só saberás prender e acumular, fugir ou violar, sem alegria nem espanto, sem beleza do viver.
O amor é o caminho que nos leva à esperança. O amor exige sermos fiel a nós mesmos em nossa essência humana. Nós não somos somente as nossas vontades e as nossas emoções. O amor é uma escolha.
O amor não é apenas questão de emoções: porque um dom é-o verdadeiramente na medida em que, juntamente com ele, existe doação.A sociedade de hoje fez das emoções um verdadeiro culto. Tornaram-se o único critério de verdade de uma experiência, ou pelo menos o mais importante. Nos esquecemos de ter também uma razão que dialoga com os impulsos da nossa emotividade, e uma liberdade que decide o que fazer perante as emoções que experimentamos.
O amor não se joga só no terreno das emoções, mas parte de um sentimento que, depois, tem de ser escolhido livremente. O amor, antes, é escolher o que fazer das emoções que experimentamos. O amor é um dom maravilhoso que enriquece a vida de quem o recebe e realiza aquela de quem o oferece. O amor , que em última análise é o dom do próprio Deus, é graça, por isso é grátis, não porque tenha pouco valor, mas porque deve ser livremente doado e acolhido, portanto livremente escolhido.
O amor é algo concreto e provocante pois exige amarmos o frágil, o desolado, o último. Fora disto, construiremos e amaremos o contrário da vida.
Aprender a amar parece ser o desafio mais decisivo para toda a humanidade e para toda a humanidade de cada um de nós. Amar com as emoções, com a razão e com a liberdade, porque menos do que isto seria redutor.
Prof. José Pereira da Silva