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sexta-feira 15 novembro 2024
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Fé e Razão – Aliança Terapêutica: corresponsabilidade médico-paciente

A medicina deve recuperar a perspectiva da totalidade do ser humano, ou seja, deve considerar o paciente como uma pessoa com unidade psicossomática, a qual não pode ser setorializada.

Mas, se é verdade que o médico deve considerar o paciente em sua totalidade, também o paciente deve tomar consciência de sua unidade psicofísica e ver a sua doença não só como uma “loucura”, mas também como sabedoria do corpo. Esse significado da aliança terapêutica entre médico e paciente, e o sentido do curar na época contemporânea.

É preciso uma nova cultura da saúde, que recuse a coisificação do paciente e a sufocação da arte médica por obesidade científica.

É fundamental a aliança terapêutica entre médico e paciente: ao doente cabe o reconhecimento que precisa de tratamento e ao médico entender que não somente ele pode ajudá-lo pois é uma compreensão limitada não apenas quanto ao conteúdo, é também uma maneira de desresponsabilizá-lo. Pois o paciente deve estar sempre em contato com os seus próprios recursos humanos.

Em paralelo com o aumento da eficácia dos remédios e com o multiplicar-se e o refinar-se das possibilidades de intervenção no corpo humano, em nível não mais de órgão ou célula, mas de átomo.

Uma medicina personalizada: não são só os doentes que a reclamam, porque também os médicos que exercem a profissão ás vezes de modo burocrático percebem que pagam o sucesso material coma ânsia e o esgotamento da motivação até à síndrome que, nos países de língua inglesa, foi chamada de burn-out: o médico ‘queimado”, isto é, que perdeu o idealismo, não encontra mais satisfação em seu trabalho, se torna indiferente tanto na vida privada como na profissional.

O lugar de refundação da medicina de relação é mais o hospital que a faculdade universitária. A medicina da faculdade se arrisca a morrer de obesidade científica; arrastada pelo desejo de ser cada vez mais científica, ela perde o doente.

No hospital, ao contrário, a realidade embaraçosa da pessoa doente – com suas múltiplas exigências, com a reivindicação de direitos e com o apelo sempre renovado a uma aliança da mente, do coração e das mãos do médico com o corpo doente – não se deixa eliminar.

É fundamental sempre uma nova cultura médica, centrada no doente e melhor numa aliança terapêutica entre médico e paciente. Relação de diálogo no qual o paciente não seja visto apenas como aquele que “ouve” passivamente, ”pacientemente”. Paciente no sentido de passivo.

Adoecer não é, pois, um acontecimento sem sentido; cair doente a certa altura da vida pode até ser um modo de caminhar para a cura. Existe a inclinação de se subtrair a força das argumentações, a fim de recuar para posições mais seguras, porque menos expostas. Surge o sentimento de onipotência terapêutica.

O modelo que prevalece na medicina corrente se baseia no pressuposto implícito de que só o especialista, isto é, o médico, e que sabe explicara doença, enquanto o doente ignora tudo o que está acontecendo em si,

Além disso, o doente praticamente não tem relação com a sua doença, nem com a sua saúde. Se cai doente, é porque se torna “vítima” de capricho da natureza, de vírus ou de germe patogênico, ou de programa genético errado. Nessa perspectiva, também a cura é algo que acontece fora da pessoa do doente.

Nesses pressupostos se apoia a relação médico-paciente, harmonizando assim a ética com a antropologia. Nessa relação se verifica a transmissão de responsabilidade ao médico; quem descobre em si um distúrbio que impede seu bem-estar espera do médico que o elimine, e o médico espera de si mesmo a capacidade de eliminá-lo.

Os médicos se comportam como médicos, porque muitos pacientes desejam renunciar à sua responsabilidade em benefício de sua saúde. Não pode haver verdadeira renovação da medicina se não atingir a relação fundamental entre médico e paciente.

É, portanto, justamente da ética, a qual exige que cada um dos dois partners (sócios, parceiros) da ação terapêutica alcance o nível de plena responsabilidade. Uma medicina do sujeito corresponsável: uma aliança terapêutica. Uma medicina de relação entre sujeitos. Assim construir uma verdadeira cultura da saúde.

Prof. José Pereira da Silva