A vida interior é uma experiência que pertence a cada ser humano. Não é monopólio de nenhum grupo religioso: cada pessoa vive uma dimensão interior, vive – podemos dizer – espiritualmente, isto é, vive com um conhecimento, uma consciência, um pensar, uma busca que lhe são próprio e transcendem a natureza animal.
A vida interior ou espiritual é uma dimensão da experiência humana enquanto tal, na qual se decide e se busca o sentido da vida. Cada um de nós sabe que veio ao mundo, cresceu, humanizou-se interrogando, colocando a quem já estava no mundo interrogações, “porquês”, e depois colocando essas mesmas interrogações a si próprio, ao longo do seu crescimento.
Cada um de nós, como se possuísse uma confiança original na vida, cresceu em busca, constituiu-se a si próprio também através da colocação de perguntas.
É colocando e colocando-se perguntas, desde a infância, que um ser humano vem ao mundo, coloca-seno mundo e encontra referências para saber aquilo que é e quer ser. Assim nasceu em cada um de nós a vida interior, que podemos desenvolver conscientemente ou deixar numa dimensão mínima, sem a proteger, expulsada daquela homologação do íntimo a que tendem as sociedades conformistas, fenômeno social que contamina a atmosfera em que vivemos.
Há vida interior quando não se deixa de viver, quando não se permite aos outros que decidam e pensem por nós, quando não nos contentamos com certezas já confeccionadas, mas é-se capaz de abertura às interrogações colocadas pela vida, à interrogação de sentido, e está se disposto, mesmo com dificuldade, a tentar dar uma resposta pessoal.
Uma verdadeira vida humana deve acontecer na comunicação com os outros, mas não deve ser devedora de soluções que os outros encontram para nós: não, cada um é chamado a encontrar em si, num caminho de vida interior, a fonte do sentido.
Deve afirmar-se com clareza que a vida interior não é uma vida contraposta à nossa vida material, à nossa existência diária; antes, é uma vida vivida no corpo, na História, na humanidade, sem possíveis evasões ou isenções: é uma maneira de pensar, de sentir e de agir concreta, com os outros e entre os outros.
Em síntese, sem a vida interior não se dá qualquer caminho de humanização: só proporcionalmente ao desenvolvimento da vida interior há a possibilidade de construir a própria personalidade, encontrar sentido e significado na vida, chegar a uma subjetividade responsável e autônoma.
Prof. José Pereira da Silva