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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Fé e Razão – A vida é um mistério

A vida é um mistério! E em cada novo começo esse mistério se torna um pouco mais profundo e maior. Podemos nos perder nele. Mas ele pode também tornar-se nosso lar.

O filósofo da religião Pe. Romano Guardini (1885-1968) fala disso: “Quanto mais velho eu fico, maior se torna o mistério em tudo. Mas também acontece outra coisa: o mistério torna-se habitável”.

Hoje é sempre o primeiro dia do resto da minha vida, e ainda é preciso aprender muita coisa. Todo dia é o primeiro dia. Com cada dia surge algo novo. Toda manhã podemos criar um novo começo. Por toda a nossa vida.

A cada instante a vida se renova, às vezes sutilmente. Sempre recomeçamos, mesmo que não percebamos. Caminhas pelas mesmas estradas porém com novos olhos. De mãos vazias podemos redescobrir o mundo enigmático.

Na mística eu continuo sempre sendo um principiante. Ela me leva do não-saber ao não-saber. O primeiro não-saber está no início da viagem, onde literalmente eu não sei nada e me encontro num âmbito desconhecido.

No meio do caminho eu assimilo um pouco de conhecimento, mas tão logo imagino ter chegado, ele me escorre pelos dedos das mãos, e me encontro novamente diante do nada. Semper incipe, é o que diz uma antiga escritura mística: “comece sempre de novo”. O primeiro não –saber é ignorante, o segundo é uma porta para o mistério.

Existe a possibilidade de ultrapassarmos os limites da nossa percepção. Santo Agostinho ( 354 d.C – 430 d.C.) falou isso numa fórmula: “Você precisa se esvaziar do que acumulou dentro de si, para poder se preencher com aquilo de que você está vazio”. Coração inquieto e um amor ardente pela sabedoria.

Toda pessoa é e permanece sendo um mistério, mesmo diante de si mesma. Mas é possível aprendermos a conhecer os mecanismos dos nossos pensamentos, para também poder modificá-los, se necessário. Esse processo nunca é concluído. Ele se repete sempre em novos ciclos.

O ser humano é mais do que alguém que tem funções, que representa esse ou aquele papel. Esse processo é semelhante àquele do escultor que retira do material tudo o que não pertence à imagem, para trazer à tona o verdadeiro, o essencial. Uma camada após a outra é retirada. Não sou minhas conquistas nem minhas deficiências.

Tudo isso são coisas externas que passam, não tem solidez e não são realmente importantes para uma pessoa, mesmo que no momento possam sê-lo.

O que resta afinal? Um centro sagrado. Uma essência indivisível. Individuum est ineffabile, diz o franciscano e filósofo medieval Wilhelm Von Ockham ( 1285-1347): “ O indivíduo, a pessoa, é inefável”. Cada um é um próprio momento de Deus.

No seu interior cada pessoa é um mistério. Naturalmente são poucas as que sabem disso.

Prof. José Pereira da Silva