Somos mesmo com dezenas de anos, mesmo quando passamos o meio da vida e todas as outras fronteiras, crianças recém-nascidas. E temos muito a aprender com as fragilidades dos recém-nascidos que, no fundo , ainda é a nossa. A fragilidade é parte integrante da vida, e não penas como uma das suas formas ocasionais e possíveis. Ela deve ser reconhecida como sua estrutura fundante. A fragilidade é uma condição de partida, uma espécie de pacto de origem, se pensarmos no modo como fomos gerados e introduzidos na existência.
Mas ela persiste, metamorfoseando-se ao mesmo tempo do que nós, acompanhando-nos. Há que compreendê-lo não simplesmente como carência, uma incompletude que não nos larga até o fim, uma dependência das múltiplas relações que nos tecem. A fragilidade permite-nos acolher a secreta e transparente melodia sem a qual não entenderíamos a vida na sua inteireza, permite-nos explorar o desenho delicadíssimo da sua paisagem interior, acariciar os seus fios tênues que, descobrimos depois, são longos e indivisíveis como fios de chuva.
Quanta ciência existe naquele poema de Lao Tsé que diz: “quando os homens ingressam na vida são tenros e frágeis; quando morrem são hirtos e duros. Por isso os hirtos e duros são, desde o princípio, mensageiros da morte e os tenros e frágeis são os mais credíveis mensageiros da vida”.
A maturidade ajuda-nos a reconhecer a fragilidade. Importante mesmo é saber, com uma daquelas certezas que brotam inegociáveis do fundo da própria alma, se estamos dispostos a amar a vida como esta se apresenta.
Prof. José Pereira da Silva