Quando o sofrimento sobe até ao ápice desarma a razão, escandaliza a consciência, rouba a energia, destrói a confiança e a alegria, Quando o sofrimento é céu, é um corpo a corpo com a carne, com a Terra e com o Céu, uma luta lenta e silenciosa entre o cá e o lá, que te pede para transformar o sofrimento em luz.
A dor é como o arado que sulca a vida num inverno gélido, e cria feridas das quais o coração pode adquirir luz e ar. Quando toca o fundo, uma pessoa entrega-se ou ao desespero ou à esperança, e a esperança pode parecer naquele momento apenas uma pequena fenda, mas é necessária para levar a vida por diante.
Hoje não conseguimos estar dentro das crises. Debatemo-nos entre desespero e orgulho para evitar estar no momento de nudez e de fraqueza, que, pelo contrário, é um momento sagrado, é o início inconsciente de cada rebento de novidade.
Devemos sentir que na fraqueza a vida não nos esqueceu, que nos tem na sua mão e não nos deixará cair.
Tal como em cada doença há muitos dias em que não podemos fazer mais do que esperar, também nos momentos de fraqueza não devemos extrair conclusões demasiado rápidas daquilo que acontece, devemos deixar que simplesmente aconteça, aprendendo da terra arada a viver todas as clausuras e aberturas.
A nossa fraqueza nem sempre tem uma razão que a justifique, mas torna-se ocasião para que cada um se dê as razões. Cada um de nós teve oportunidade de ver pessoas doentes que lutaram com dignidade até o fim, como se não pudessem descer abaixo daquilo que tinham vivido, como se estivessem, mais uma vez, de transformar esse momento de fraqueza em dignidade.
“Mastigue e cospe por um lado o mel, por outro a cera”, diz o cantor e compositor italiano Fabrizio De André. Na vida há momentos que são fruto de mel, outras em que o fruto é a cera. Fazer da fraqueza a nossa força quer dizer que aquela frágil cera não é refugo, mas possível alimento de luz no nosso caminho.
Prof. José Pereira da Silva