Para transformar o mundo, é indispensável uma espiritualidade, uma mística.
Com estes dois termos entendo o meu mundo interior, aquilo que da sentido à minha vida. Ora, pela fé cristã, o outro é aquele que dá sentido à minha vida e desencadeia todas as minhas potencialidades; ele é minha maior riqueza.
Para Sartre os outros são o inferno (L’enfern, c’est les autres); para o cristão, são riqueza e paraíso. Este é o grande segredo da espiritualidade cristã: o outro se torna centro e coração do meu próprio coração, à imagem e semelhança de Deus.
A criação nos diz que Deus quer que o outro exista. Encarnação nos diz que o próprio Deus se torna outro. Ressurreição Deus faz reviver o outro. Ele escolhe entre quem mata e quem faz viver. Pentecostes Deus nos presenteia com seu Espírito, aquilo que Ele é, para que consigamos aprender e falar a língua dos outros.
A espiritualidade da justiça é um reviver dentro de si esta paixão de Deus pelo homem, é acreditar na possibilidade de um mundo justo, é querer que o outro exista, aliás é tentativa de se tornar o outro, é não aceitar a sua morte, mas é querer e fazer de tudo para que ele viva. Enfim, é aprender e falar a sua língua: feliz só se o outro é feliz.
Para quem mergulha neste mundo há uma equiparação constante entre o outro e O OUTRO.
Não é possível amar a Deus sem passar pela justiça. Jogar-se em movimentos espiritualísticos, verticalísticos, com a desculpa de querer se encontrar com Deus sem ao mesmo tempo lutar para que os outros sejam respeitados e possam crescer como gente e como filhos de Deus, significa não entender o Evangelho. Bem-aventurados aqueles que tem fome e sede de justiça (Mt 5,6).
Apaixonar-se por Deus comporta necessariamente se apaixonar pelo outro, pelo próximo.
Prof. José Pereira da Silva