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terça-feira 24 dezembro 2024
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Fé e Razão – A agressividade e a reeducação para a empatia e convivência: o valor da relação humanizada

A palavra agressividade é um termo complexo, como a emoção que a subentende.
Se a primeira conotação se mostra exclusivamente negativa, a raiz etimológica sublinha-lhe, pelo contrário, uma valência potencialmente positiva; “ad-gredior” significa vou em frente, avanço, e por isso faz referência a uma força que implica dinamismo e autoafirmação, e que coloca o “eu” em condição de progredir para além dos obstáculos.

Na vida infantil, a pulsão( impulso energético interno que direciona o comportamento do individuo) agressiva fisiológica sustém em primeiro lugar o desejo de sair da fusão simbiótica originária para construir a identidade pessoal; esta, com efeito, requer a definição das suas fronteiras, porque ser-se eu próprio significa não ser como o outro, e ter pensamentos e desejos de que sentimos a plena propriedade.

Um exemplo claro desta passagem são as palavras-chave da criança entre os dois e os três anos, nó crucial no percurso identitário: estas palavras (eu, não, meu) são utilizadas de maneira marcadamente autoafirmativa, e não raro agressivo, que exprime muito bem a necessidade de afirmar a vontade nascente e a diferença específica.

Na vida adulta, aquilo que estimula a agressividade é sempre a percepção ( certa ou incorreta) de alguém ter violado o nosso território físico ou psíquico: alguém, portanto, que nos falta ao respeito ou que ultrapassou o limite; a reação agressiva serve-nos para “pôr o outro no seu lugar”: tudo modos de dizer que indicam bem como ao centro está precisamente o tema da proteção daquilo que sentimos nosso, a partir da imagem que cada um tem de si.

Mas porque é que hoje a taxa de agressividade social é tão elevada? Porque é que as modalidades de relacionamento se tornaram tão agressivas a todos os níveis?

Creio que o problema está ligado a um modo de se considerar a si próprio que alarga desmesuradamente ser o nosso território, sem que saibamos reconhecer a legitimidade do território dos outros: aquele infantil “eu/meu” alastra-se sem encontrar um limite na capacidade de dar espaço ao “eu” do outro.

Esta capacidade não se improvisa, como bem sabe que tenta conter a prepotência fisiológica dos três anos; exige uma educação paciente para a empatia, que é precisamente o saber inserir-se no ponto de vista do outro.

Para fazer isto é necessário, todavia, que o mundo dos adultos torne a descobrir o valor da relação, abandonando a lógica do “tudo gira à minha volta”.

Prof. José Pereira da Silva