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domingo 1 dezembro 2024
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Evangelização infantil

• José Passini – Juiz de Fora/MG
“Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir aqueles incumbidos de educá-lo” (O L.E., 383)
O Movimento Espírita Brasileiro ainda não despertou completamente para a importância da evangelização infantil. Nas primeiras décadas do século passado, as atividades dos centros espíritas se restringiam quase que só à mediunidade. As portas dos centros eram abertas ao público que, em geral, comparecia para assistir ao espetáculo da comunicação mediúnica, por sinal bastante movimentada. Com o passar do tempo, foram introduzidas as palestras públicas. Vagarosamente, foram aparecendo os grupos de estudos, visando à preparação de trabalhadores para atuarem na mediunidade, na exposição doutrinária, nos passes. Foram surgindo também grupos de estudos das obras de Kardec, das obras de André Luiz, até de estudos bíblicos. Mas ainda é flagrante a pouca atenção dada ao tema evangelização infantil em livros, em revistas, na internet e em programações de estudo de muitas casas espíritas.
O preparo de médiuns é muito importante, pois vão atuar nas reuniões de desobsessão, no encaminhamento de Espíritos desencarnados que se encontram desamparados, desorientados ou voltados à perseguição de pessoas, através da obsessão. A esse trabalho poder-se-ia dar o nome de evangelização de desencarnados. Trata-se, inegavelmente, de um trabalho meritório que, frequentemente, requer larga dose de compreensão, de bondade, até mesmo de abnegação. É uma terapêutica levada ao Espírito enfermo que, se tivesse sido evangelizado na infância, possivelmente não teria escolhido caminhos tortuosos para seguir. Trata-se de um trabalho de cura, funcionando a reunião mediúnica como um hospital para almas.
Fazendo-se um paralelo com a Medicina, vemos que os processos preventivos visando à preservação da saúde vêm aumentando sensivelmente com o passar do tempo, pois é melhor vacinar do que esperar que a criatura adoeça e tratá-la mais tarde. Por que, então, não se adota a mesma prática no Movimento Espírita? Por que não vacinar a criança na Escola Espírita de Evangelização Infantil?
O Espírito reencarna com o objetivo de se aperfeiçoar, conforme resposta que os Espíritos Superiores deram a Kardec. Por que não aproveitar a encarnação na sua fase infantil, quando ainda estão mais vivos, embora inconscientemente, os projetos formulados no Mundo Espiritual, no sentido de aperfeiçoar-se, de servir, de caminhar no Bem? Por que esperar que a criança cresça com a possibilidade de adquirir hábitos não condizentes com os ensinamentos do Evangelho, para recebê-la, já adulta, no atendimento fraterno, no trabalho de passes, ou, já na condição de Espírito desencarnado, na mesa mediúnica?
Na escola espírita de evangelização infantil, a criança, desde cedo, é conscientizada de que é um Espírito reencarnado, como seus pais e seus evangelizadores o são, mas que, no momento, seu corpo ainda está em processo de crescimento, de adaptação à vida na Terra. Ali a criança aprende a libertar-se do misticismo do templo; a libertar-se do problema racial; a ter consciência de que deve colaborar na melhoria do mundo; a ter fé no amparo de Deus, de Jesus, dos Bons Espíritos. Mas aprende também que deve fazer a sua parte.
O aprendizado nessa escola vai levá-la a conscientizar-se de que está numa família que a acolheu, mas que foi escolhida por ela própria, levando-a a concluir que o compromisso é mútuo. Vai levá-la a conscientizar-se de que é a construtora do seu próprio destino. Vai levá-la saber que a melhor religião é a prática do Bem. E a reconhecer no Espiritismo a volta dos ensinamentos de Jesus, conforme sua promessa.
Àqueles que dizem não desejarem forçar a criança a comparecer ao centro espírita, temendo que ela crie uma rejeição ao Espiritismo, deixando-a escolher sua religião na idade adulta, deve ser perguntado se também deixam ao livre-arbítrio da criança o comparecimento à escola a fim de alfabetizar-se. Ou se deixam também ao seu arbítrio as vacinas próprias da infância.
Os pais realmente responsáveis devem acompanhar de perto o aprendizado da criança, comparecendo à Escola de Evangelização, a fim de dialogar com os evangelizadores.
O Culto do Evangelho no Lar, levado a efeito com responsabilidade, em dia e hora estabelecidos, é grande colaborador na tarefa de evangelização dos pequeninos. No lar onde há crianças, as leituras e os comentários devem ser feitos em nível de compreensão delas. As crianças devem ter preferência absoluta nas reuniões evangélicas domésticas. Os pais devem perguntar o que aprenderam na aula de evangelização, valorizando o conhecimento adquirido.
Os pais devem esforçar-se no sentido de que Evangelho, Espiritismo, evangelização infantil sejam assuntos comentados não somente no Centro Espírita ou durante o Culto do Lar, possibilitando à criança fazer a transferência, para o lar, do respeito ao templo religioso vivenciado noutras encarnações, podendo dizer: “meu lar, meu santuário maior”.
É necessário que os pais estejam profundamente convencidos de que são os maiores responsáveis pelo encaminhamento do Espírito imortal que lhes chegou às mãos em forma de criança, competindo-lhes por isso o dever de encaminhá-lo, não só através de palavras, mas principalmente de exemplos dignificantes. São muito oportunas as palavras do Benfeitor Alexandre, no cap. 18 do livro Missionários da Luz: O companheiro que ensina a virtude, vivendo-lhe as grandezas em si mesmo, tem o verbo carregado de magnetismo positivo, estabelecendo edificações espirituais nas almas que o ouvem. Sem essa característica, a doutrinação, quase sempre, é vã.
Mateus, que observava nas pessoas o efeito dos ensinamentos de Jesus, encerra seu relato de “O Sermão da Montanha” com essas palavras: Porquanto ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas. (Mateus, 7:29.)