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quinta-feira 26 dezembro 2024
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Esquecer é preciso

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Dentre as sábias e misericordiosas leis divinas, destaca-se aquela determinando o esquecimento de quem fomos e como agimos em nossas existências pregressas, contudo, temporariamente, apenas durante o período quando encontramo-nos mais uma vez reencarnados.
Questão rotineiramente abordada em palestras e estudos, pois, quem sabendo já ter vivido outras vidas não deseja saber em detalhes: qual nome teve, onde reencarnou, em qual época, com quem se relacionou, foi um nobre ou um plebeu, como morreu, entre tantas outras questões, quando detemo-nos a refletir sobre nossas múltiplas existências?
Todas as leis do Criador são perfeitas, visam única e exclusivamente apoiar-nos na trajetória rumo à perfeição possível de ser alcançada. Esta, o esquecimento do passado, não foge à regra, embora, para muitos seja motivo de certo desconforto, pois creem deveriam se lembrar de tudo, afinal participaram ativamente em outros grupamentos familiares ocupando posições outras daquelas ora ocupadas na família atual.
Existe uma razão técnica promovendo o esquecimento. Quando reencarnamos há uma diminuição da frequência na qual vibramos, devido à própria imersão mais uma vez em um corpo material (Emmanuel – pelo Espírito Emmanuel, cap. XIV), além disso, o perispírito sofre uma espécie de abafamento, não permitindo assim que as informações armazenadas nesta estrutura eletromagnética, possam ser acessadas e recordadas livremente.
Mas quais seriam os motivos para a Divindade impor esta condição? Afinal, o passado é nosso, fomos nós os partícipes das situações vividas! O que demais poderia haver em lembrar destas existências? Podemos garantir: demais não haveria nada, só haveria de menos.
A trajetória evolutiva dos Espíritos se faz de três maneiras distintas: há aqueles obrando única e exclusivamente no bem desde o início, enquanto outros fazem o oposto; estes dois são os casos extremos, e existem aqueles avançando através da repetição de lições.
Sabe-se ser esta última a situação mais comum dos Espíritos encarnados e desencarnados gravitando em torno da Terra, senão, reflitamos: em qual planeta habitamos? Mundo de provas e expiações, em via de se regenerar. Orbes desta categoria são caracterizados por habitantes que de ordinário não se destacam como bons exemplos de evolução. Não são criaturas, na média, vitoriosas sobre si mesmas, não são portadoras de virtudes e padrões morais e éticos podendo ser exaltados e copiados, muito pelo contrário.
Estas possibilidades foram registradas por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (q.124): Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, haverá, talvez, gradações entre esses dois extremos? – “Sim, certamente, e constituem a grande maioria.”
Sendo este o padrão de evolução dos habitantes em nosso planeta, o que podemos imaginar tenhamos feito nas existências pregressas? Certamente não tivemos numerosas atuações nobres, o nosso passado não é dos mais exemplares; somos caracterizados por altos e baixos, entretanto, seguramente mais baixos do que altos.
Desta forma, por qual razão recordar ou tentar lembrar deste passado não muito digno? Ganharíamos algo com esta recordação?
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E mais, existe alguém que se satisfaça, encontre prazer em lembrar os deslizes cometidos na atual existência? Não é regra tentarmos, por todos os meios possíveis, apagar de nossa memória aquilo a nos incomodar do ponto de vista moral e ético?
Contudo, é conveniente fazer uma ressalva, embora não nos recordemos corriqueiramente das existências anteriores, todas as conquistas construídas no pretérito, entre virtudes e intelecto, permanecem conosco, jamais se perdem, possibilitando desta forma nos beneficiemos da melhora promovida em nós mesmos, através de nossos esforços em termos de moralidade e inteligência, em anteriores vivências, este outro sábio mecanismo divino impedindo que em cada nova existência recomecemos o nosso processo evolutivo do zero.
A lembrança do passado só é útil quando o Espírito já construiu a fortaleza moral para enfrentá-la com humildade e aproveitamento. Não é possível retirar lições de condutas delituosas passadas, se ainda nem sequer conseguimos nos suportar; respeitar a crença alheia; tolerar as diferentes sociedades; entender as possíveis opções de conduta sexual; pacificar ao invés de guerrear; entre tantas condutas egoístas passíveis de serem elencadas caracterizando o século.
Caso contrário, se o Espírito desvenda o seu passado, sem estrutura interior, surgem fatalmente, entre outros: culpa, remorso, vergonha, desespero, sentimentos que dificilmente sabemos bem lidar, aos quais, acrescidos dos momentos infelizes da vida atual, pressionariam de tal modo levando ao desequilíbrio qualquer Espírito mediano, como a maioria de nós.
É fato que alguns se relembram de alguns aspectos de anteriores existências, não há o olvido absoluto; entre estes há médiuns necessitados destas informações para bem se conduzirem em suas particulares missões, mas esta recordação é natural, não houve busca forçada. Por alguma razão, desconhecida no momento, Deus permitiu esta lembrança.
Não nos preocupemos em demasia com o pretérito, observemos a vida presente, “recordemo-nos” das existências pregressas observando as nossas atuais inclinações e tendências naturais, pois, nada mais representam do que traços de nosso caráter construídos em outras existências. Se os reconhecemos destoantes da boa moral, fustiguemos estes aspectos da personalidade ainda nos caracterizando, suplantemo-los através de boas ações, atitudes nobres, padrões caridosos; vivamos o bem agora, e as marcas indesejadas do passado serão totalmente superadas. Por outro lado, se os identificamos salutares, boas propensões, fortaleçamo-las, pois são indicadoras de que em existências anteriores buscamos o bem.
Desta forma, o véu total, o mais comum, ou parcial, imposto pelo Criador sobre o nosso passado é salutar, benéfico e providencial, tenhamos certeza disto.