Líder estudantil, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral é uma revelação da nova Política brasileira. Nesta entrevista exclusiva ao Diário de Taubaté ela responde a questões que interessam a todos, mas especialmente aos jovens e aos estudantes. Carina tem 27 anos, é jornalista, e participou dos momentos mais importantes da Política brasileira desde 2013.
A convite do núcleo regional do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, ela virá a Taubaté nos próximos dias para debater os temas da Juventude, da Educação e do momento político nacional.
Em Taubaté, depois de duas audiências públicas com ampla participação de movimentos sociais, a Câmara Municipal suspendeu a votação do projeto “Escola Sem Partido”. Na verdade, o Ministério Público também acionou a Câmara para que interrompesse a tramitação, já que a elaboração de currículo escolar é privativa do Congresso Nacional. Ameaçou até cobrar da Mesa da Câmara os gastos com sessões dedicadas a discutir tal assunto, abusando de suas atribuições. Gostaria que você comentasse este caso, e outros que conhece em outras cidades.
O projeto Escola Sem Partido é uma aberração. A desculpa que os setores conservadores dão é a de que os professores são “militantes”, que “lavam o cérebro” de estudantes. Esse, definitivamente, não é o problema da escola pública, o problema é a falta de qualidade, salários baixos para professores, infraestrutura, violência. Taubaté não foi um caso isolado. Na cidade de São Paulo, houve movimentos semelhantes e projetos com o mesmo teor em São José dos Campos, em Goiás e no Nordeste. Felizmente, a mobilização social e a justiça têm barrado essa loucura. Escola Sem Partido é censura. É impedir a liberdade de informação e a visão crítica. Resumindo, o Escola Sem Partido é uma armadilha conservadora para impôr o pensamento único.
DT – Como você avalia a participação dos jovens e dos estudantes na Política, após o golpe de 2016?
A juventude não apoiou o impeachment e percebe o que ele está representando em retrocessos para o país. Um exemplo disso foram as ocupações secundaristas contra a Reforma do Ensino Médio que inauguraram a oposição ao governo Temer. Depois disso teve outra onda nas universidades contra a EC 95 que tira dinheiro da educação. O movimento estudantil está cada vez mais engajado. E a partir dos jovens, o resto da sociedade vai tomando consciência do que aconteceu. Agora em 2018 nós temos a oportunidade de discutir e dar novos rumos para o Brasil. É possível construir o país que nós sonhamos. É um momento para sacudir estruturas, de mostrar que existe uma frente ampla para trazer renovação para a política.
DT – Universidades Federais têm sido alvo de perseguições pela Polícia Federal e Judiciário. Como você analisa esta “onda” autoritária? Visa futura privatização do Ensino Superior?
Sem dúvida existe a intenção de privatizar o Ensino Superior. Mas não é só isso. É uma onda de perseguição política e patrulhamento contra o pensamento progressista. Usam a mídia para criar factoides, buscam destruir reputações e acabam com pesquisas importantíssimas para o país. Conduziram coercitivamente os reitores da UFMG. Na Federal de Santa Catarina o caso acabou de um jeito ainda pior, com o suicídio de uma vítima desses ataques. Quando as coisas chegam até um nível desses, já está igual aos piores momentos da ditadura.
DT – Taubaté possui a primeira Universidade municipal em regime de Autarquia, no Brasil. Há grupos que defendem sua privatização, mas forte resistência da população. Outros falam em estadualização ou federalização. Você e a UNE, que presidiu, têm um modelo ideal de Universidade, pública, privada ou semi-pública?
Nós defendemos a universidade pública e gratuita, é o maior canal de acesso à educação superior. A Unitau por ter se conservado municipal, ainda reserva grande relação com o desenvolvimento regional e interesses da população. O problema da municipalização é que poucas cidades no Brasil conseguiriam custear uma universidade, o ideal é dialogar com as universidades estaduais paulistas para o governo do Estado assumir. É a universidade pública que garante a produção de tecnologia, inovação e conhecimento comprometida com os interesses do país. Seria um ganho enorme pra região.
DT – Os cortes nas verbas para Educação e o congelamento do orçamento do setor por 20 anos pode significar um atraso cultural do Brasil nas próximas décadas e gerações?
Com certeza. Esse congelamento trava investimentos. Ele ignora o contexto da educação e a evolução natural do ambiente educacional. Como esse tipo de coisa pode existir no cenário dinâmico que as novas tecnologias trazem? Vamos fazer um exercício de imaginação. Imagine o mundo há 20 anos e compare com o que ele é hoje. Imagine encarar esse mundo com os recursos de duas décadas atrás? Não seria fácil, não é? Assim vai ser o futuro com esses congelamentos e cortes.
Por Antônio Barbosa Filho – Jornalista