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domingo 24 novembro 2024
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Entre Facas e Segredos

Obras cinematográficas, geralmente, usam de vários subterfúgios para chamar a atenção do público e ganhar muitos espectadores que encham as salas dos cinemas mundo afora. Um bom enredo ou um grande elenco são os mais comuns e, normalmente, um fator é bem independente do outro. Felizmente, não é o caso de Entre Facas e Segredos, que une os fatores com vários ótimos atores em uma trama extremamente prazerosa de ser acompanhada.
Na trama, o milionário autor de livros de investigação Harlan Thrombey (Christopher Plummer) é encontrado morto em sua casa após uma festa que reuniu toda sua família de sanguessugas, cada um com sua própria motivação para estar de olho na herança. A polícia e o detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig) logo começam as investigações e a projeção segue padrões que homenageiam obras desde contos de Agatha Christie até o famoso jogo de tabuleiro Clue. E apesar de ser uma fórmula bem batida, o longa é muito perspicaz em seu roteiro escrito por Rian Johnson, que inclusive dirige. Direção a qual deixa claro, desde as primeiras cenas, o capricho envolvido na produção.
Direto ao ponto, o filme reserva seu primeiro ato a apresentar os personagens de maneira eficiente e descontraída, utilizando o interrogatório do detetive para expor cada uma das peças do jogo. Tudo isso é aliado de uma montagem ágil e cirúrgica, que mescla cenas do presente com flashbacks que justificam ações de cada um em tela. A maneira em que o diretor encontra de nos informar sobre as verdades e mentiras incluídas na história ajuda muito no nosso envolvimento com a trama, nos colocando afrente do detetive, mas sem nunca adiantar demais o que ainda está por vir. Mesmo que o protagonismo seja bem dividido, a enfermeira Marta, vivida pela atriz Ana de Armas, se destaca e ganha os holofotes por ser o fio condutor que amarra a família, se saindo muito bem na função. Temos também Chris Evans, Michael Shannon, Jamie Lee Curtis, Toni Collette, entre outros, que dão aos personagens a ambiguidade moral necessária para que cada um deles nos chame a atenção nas horas certas e todos sejam suspeitos em potencial.
Apesar de, até aqui, já colecionar bons atributos, o roteiro é capaz, ainda, de adicionar mais nuances em pouco mais de duas horas de projeção. Aproveitando-se da família desconjuntada que está em foco nas investigações, o filme tem a esperta sacada de criticar alguns comportamentos típicos americanos enquanto resolve o caso. Assuntos como ganância, luta pela herança e capacidade de mentir já são esperados, mas Johnson insere temas como preconceito racial e de classe, com a sarcástica relação mostrada entre os familiares e os empregados, e também pincela tópicos como a ascensão dos militantes de redes sociais, traição e pessoas que deixam de crescer na vida por permanecerem nas sombras de outras.
E, a despeito do peso e seriedade de tais subtramas, o desenvolvimento é leve e divertido, instigante o suficiente para manter o público interessado sem sentir o tempo passar.
Knives Out, no original, é uma comédia sutil e inteligente e, embora não reinvente a roda, utiliza das ferramentas já estabelecidas com maestria para criar um filme diferente e convidativo para o público, que certamente reservará um espaço na memória para guardar essa história.