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sábado 21 setembro 2024
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Emmanuel e o Evangelho

• José Passini – Juiz de Fora/MG
Começamos a conhecer Emmanuel nas páginas do romance “Há Dois Mil Anos”. Apresenta-se ele como senador romano, homem reto, de caráter firme, mas ainda prejudicado pelo orgulho da sua condição de patrício romano. Mas, no final da sua romagem como senador, matricula-se na escola do sentimento, da fraternidade, da humildade, aceitando corajosamente o sofrimento que o alcançara. Na sua encarnação seguinte, vemo-lo já como bom aluno dessa escola, na condição de escravo, no livro “Cinquenta anos depois”. Mais tarde, em encarnações no sacerdócio romano, tem oportunidade de consolidar seu esforço na aquisição das virtudes preconizadas pelo Evangelho. Conservando a austeridade adquirida no patriciado romano, passou a revelar-se fiel discípulo de Jesus, realizando obras de exegese e aplicação das verdades contidas no Novo Testamento, a mais ampla levada a efeito dentro do Espiritismo.
Revela-se, esse Espírito, um verdadeiro teólogo. Não como aqueles que criaram, ao longo dos tempos, uma série de mitos através de abordagens fantasiosas e direcionadas à legitimação de posições que levaram o Movimento Cristão –ao tornar-se Catolicismo Romano –ao estabelecimento de dogmas, de hierarquia sacerdotal, da prática de solenidades e de rituais, do manuseio de objetos de culto, da ministração de sacramentos, do estabelecimento de lugares considerados sagrados, do isolamento e confinamento de pessoas, principalmente de mulheres, das quais foram retiradas todas as prerrogativas de igualdade, ensinada e vivenciada pelo Mestre.
Esse Espírito que, graças à sua inteligência fulgurante, poderia ter ficado na Europa, onde a Igreja Romana tinha grande poder, numa demonstração de seu entendimento da mensagem de Jesus, veio para o Brasil, no início da colonização portuguesa, a fim de trazer aos indígenas aquilo que ele considerava, à época, elemento de salvação.
Ao lado do sacerdote interessado em catequizar indígenas, aqueles que lhe estudam a biografia, constatam a existência do homem corajoso, empreendedor e fraterno, caridoso, pois além do notável trabalho de pacificador nas desavenças entre indígenas e portugueses, fundou entidade destinada ao recebimento de órfãos brancos e indígenas, que ali eram tratados como irmãos.
Preterindo o conforto da vida monástica, meramente contemplativa, humanamente confortável, vida cercada de luxo e de atenções, a que poderia ter-se dedicado na Europa, ele, desde esse tempo, já demonstrava o seu real entendimento das verdades ensinadas no Evangelho de Jesus. Já sentia que os ensinamentos do Mestre deveriam ser empregados como práticas de vida, fora dos templos, longe das comodidades da vida monástica, de mera contemplação mística.
Mais tarde, embora tenha voltado à Terra em plena posse da sua imensa bagagem intelectual, que novamente lhe valeria lugar de destaque nas instituições do Catolicismo Romano da Europa, ele tem oportunidade de uma aproximação maior ao Evangelho, na pessoa do Padre Damiano, talvez já numa preparação para ser o orientador espiritual da obra de Francisco Cândido Xavier.
Seu compromisso com o Cristo, sua elevação espiritual e sua firmeza moral o colocaram como orientador seguro da missão de Francisco Cândido Xavier. Foi ele o supervisor e orientador de toda essa obra mediúnica que ficará para os séculos porvindouros, e cujo alcance muitos ainda não perceberam, vez que se trata de um verdadeiro desdobramento da obra de Kardec.
Além dessa tarefa de supervisionar a obra missionária de Chico, ele próprio produziu farta literatura, em que revela seu entendimento lúcido, completamente escoimado dos prejuízos impostos por aqueles que se aplicaram no desvirtuamento da mensagem do Cristo.
Através da sua literatura interpretativa de preceitos contidos no Novo Testamento, temos a oportunidade de ver as lições do Evangelho aplicadas à vida diária, como fazia o Mestre, e não apenas nos momentos de vivência religiosa no interior dos templos.
Principalmente nos livros “Caminho, Verdade e vida”, “Pão Nosso”, “Vinha de Luz”, “Fonte Viva”, “Palavras de Vida Eterna”, e “Ceifa de Luz” está perfeitamente explicitado o seu entendimento superior dos ensinamentos contidos no Evangelho, todos aplicados ao cotidiano.