• Gerson Sestini
Não fosse a própria Doutrina a nos explicar que somos espíritos ocupando diferentes e transitórios degraus na permanente evolução por que passamos, talvez não conseguíssemos entender certas pessoas que se dizem espíritas, frequentam centros e depois se afastam da comunidade, abandonando seus trabalhos na instituição. Muitas relegam ao esquecimento não só aquelas experiências que tinham como um dos objetivos administrar as diferenças entre as pessoas com as quais conviviam, aplicando o ensinamento evangélico do amor ao próximo, como também a crença que um dia as estimulou a achar um sentido na vida.
Este quadro tem se sucedido nas casas espíritas, irmãos que as abandonam, deixando inseguros alguns dos confrades que ainda não adquiriram firmes convicções. Já ouvimos aqui ou acolá esta frase: “a pessoa entrou na doutrina, mas a doutrina não entrou nela”, que, numa interpretação melhor, seria a da pessoa se aproximou da doutrina, obtendo dela algum entendimento, faltando, no entanto, que se esforçasse a continuar o laborioso processo de penetrá-la e assimilá-la até chegar à convicção plena.
Seria algo semelhante à parábola do semeador: Os citados irmãos estariam na posição do solo onde a semente caiu; se era um terreno pedregoso que produz vacilações ou que estivesse sob os espinheiros da dúvida, ela não pôde crescer para dar frutos. Diríamos então que não houve a necessária ressonância entre a mensagem libertadora do Espiritismo e a aceitação plena daquele que foi levado a conhecê-lo.
Diante dos apelos não atendidos para que o irmão retorne, resta-nos compreender o que a Doutrina nos ensina: somente o tempo com as novas experiências poderá recolocá-lo no patamar onde estivera, mas não necessariamente na mesma comunidade.
Esta situação envolve também a questão da fé nos postulados espíritas. Muitos confrades estão ainda nas primeiras etapas do conhecimento da Doutrina, mas o pouco que conhecem já lhes basta para continuar diante dos obstáculos sem titubear, pois já possuem a maturidade do senso moral, como nos ensinou Kardec.
Quanto ao auxílio da Espiritualidade em nossas dúvidas e vacilações lembremos ainda do homem que pediu a ajuda de Jesus para que curasse o filho tomado por avassaladora obsessão. O Mestre lhe diz: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê”. Ao que o pai do menino lhe disse em lágrimas: “Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade”. Esta é uma das mais impressionantes frases de um, entre os milhares de necessitados, ao dirigir-se a Jesus. Como acontecia com aquele pai desesperado, a maioria de nós ainda se comporta de modo semelhante àquele homem: nos momentos críticos da vida, acabamos por desnudar nossa alma e mostrar nossas fraquezas.
Em nossas divagações, ficamos a imaginar como procederia Jesus se o pai que o procurava lhe dissesse: “Eu não creio, ajude-me mesmo assim!” Vemos, contudo, que este quadro evangélico focaliza a curado filho na dependência da fé do pai. A sinceridade dele diante do Mestre a respeito de sua pouca fé e o humilde pedido do auxílio para que ela crescesse a fim de ver o filho livre do mal, propiciou a que Jesus decidisse tirar o menino da severa possessão que os apóstolos não haviam conseguido levar a efeito.
Dessas ilações deduzimos que diante das tentações ou situações que procurem afastar o trabalhador das tarefas de sua comunidade, levando-o a abandoná-la, deverá ele agir como o pai do menino que estava tomado pela obsessão, seja pelo motivo que for, e rogar de modo semelhante a ele: “Jesus, ajude-me na minha vacilação e nas minhas dúvidas com a pequena fé que possuo, pois estou determinado a continuar nas tarefas a mim confiadas porque sei que reservas o melhor para mim!”
Dúvidas e Vacilações
abr 11, 2019Bruno FonsecaColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Dúvidas e VacilaçõesLike