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segunda-feira 25 novembro 2024
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Dostoiesvki: o escritor da indagação, compreensão e da profundidade da alma humana

O escritor austríaco Peter Handke afirmou: “uma narração que não passa através do eu do autor não é literatura, mas somente um simples produto”. Uma afirmação verdadeira no caso de Fiódor Dostoievski (1821-1881) , um dos autores mais lidos no mundo e de quem se assinalam este ano os dois séculos do nascimento – , que desde a mais jovem idade foi obcecado pela observação e compreensão do humano.

São poderosas as suas palavras numa carta de 1849 ao irmão Michail, quando soube, a um passo da pena de morte, que o seu castigo tinha sido substituído por quatro anos de trabalhos forçados: “A vida é vida em todo o lado, a vida está dentro de nós, não fora. À minha volta haverá outros homens , e ser um homem entre os homens e permanecê-lo para sempre, qualquer que sejam as desgraças que aconteçam, sem lamentações, sem perder o ânimo: é nisto que consiste a vida, o seu propósito. Dei-me conta disto. Esta ideia fez-se de carne e sangue. É a verdade!”.

Carne e sangue: o humano. Uma verdadeira obsessão para Dostoievski, tendo em conta que suas obras colocam nada mais nada menos que este objetivo audaz, que foi também o de certa literatura antiga: a indagação do ser humano.

Num tempo em que a narrativa mergulhava na descrição do mundo circunvizinho, da burguesia, da guerra, da História, em Dostoievski as palavras narram a profundidade da alma humana, independentemente da narração de uma trama, muitas vezes apenas superficialmente ligada ao núcleo real do romance.

Prof. José Pereira da Silva