Estudo recente encontrou micro e nanoplásticos nas artérias de pacientes e observou possível relação com doenças cardiovasculares
Microplásticos são partículas pequenas de plásticos que contaminam água e solo e podem ser ingeridos por pessoas e animais, trazendo riscos à saúde.
Os microplásticos são um grande problema para o meio ambiente: essas partículas pequenas são liberadas de embalagens de alimentos, bebidas, pneus, roupas, canos e contaminam a água e o solo, podendo ser ingeridos por animais e pessoas.
Um estudo recente, publicado na quarta-feira (6) no The New England Journal of Medicine, mostrou que esses microplásticos foram encontrados nas artérias de 60% das pessoas que participaram do estudo. Nesses indivíduos, o risco de ter um ataque cardíaco, AVC (acidente vascular cerebral) ou, até mesmo, morrer era 4,5 vezes maior, em comparação com quem não apresentava microplásticos nas artérias.
Os microplásticos são definidos como partículas pequenas, menores do que 5 milímetros, de plásticos. Já os nanoplásticos são pedaços ainda menores, tão minúsculos que só podem ser vistos com microscópios especializados.
Estudos recentes têm descoberto a presença desses micro e nanoplásticos no sangue humano, no leite materno, na urina e nos tecidos que revestem o pulmão e o fígado. Agora, a pesquisa atual mostra que esses pequenos plásticos estão presentes também nas artérias de algumas pessoas e podem estar associados às doenças cardiovasculares.
Como o estudo foi feito?
O estudo foi realizado com 257 pessoas que tinham sido submetidas a uma cirurgia chamada endarterectomia carotídea. Esse procedimento é indicado para tratar a doença da artéria carótida, caracterizada pelo estreitamento das artérias devido a formação de placas de gordura e cálcio no seu interior.
Os pesquisadores acompanharam os pacientes durante uma média de 34 meses após a cirurgia. Foram encontradas partículas de plástico, principalmente os nanoplásticos, nas artérias de 150 pacientes.
Segundo análises clínicas feitas pelos cientistas, a maior parte dessas partículas era composta por polietileno, o tipo de plástico mais utilizado no mundo e encontrado em embalagens de alimentos, sacolas de mercado e tubos médicos. Também foi encontrado PVC (cloreto de polivinila) nessas partículas.
Durante o acompanhamento, 20% desses pacientes sofreram infarto não fatal, AVC não fatal ou morreram, por qualquer causa. Entre aqueles que não apresentavam partículas plásticas em suas artérias, apenas 7,5% sofreram esses eventos.
De acordo com os pesquisadores, os pacientes com níveis detectáveis de plástico tinham um risco quase cinco vezes maior de sofrer um evento cardiovascular em comparação com os outros participantes. Esse resultado foi obtido após ajustes para idade, sexo, índice de massa corporal e condições de saúde como diabetes e colesterol alto.
Apesar dos achados, o estudo é apenas observacional, ou seja, mostra somente uma associação entre as partículas de plástico e ataque cardíaco, AVC ou morte. Portanto, as descobertas não confirmam que os micro ou nanoplásticos foram responsáveis por esses eventos cardiovasculares.
Para chegar a essa conclusão, mais estudos seriam necessários, como um ensaio randomizado e controlado. Porém, para realizar essas pesquisas, seria necessário expor intencionalmente as pessoas a potenciais toxinas, o que pode ser antiético.
Por outro lado, o atual estudo pode abrir caminho para outras pesquisas futuras que reforcem a relação entre a presença de micro e nanoplásticos no organismo e doenças cardiovasculares, na visão dos pesquisadores.
A primeira vez que os microplásticos foram detectados no meio ambiente foi em 1970 e logo passaram a ser um fator de preocupação por poluírem cada vez mais os ambientes aquáticos.
Seja no ambiente de água doce, seja no ambiente de salgada, os microplásticos acabam prejudicando o bioma, principalmente a cadeia alimentar, já que causa a morte de muitas espécies.
A tendência é que a utilização desses plásticos na fabricação de alguns produtos e seu descarte sejam proibidos.
Impacto dos microplásticos nos ambientes de água doce
A partir de 2001, após a descoberta de microplásticos no ambiente de água doce, estudos têm sidos feitos para determinar o impacto dessas partículas no meio aquático.
O impacto ambiental mais comum está relacionado com a ingestão do microplástico por animais aquáticos, o que pode levá-los à asfixia. Quando não causa asfixia, a ingestão desses plásticos leva a lesões em órgãos internos e ao bloqueio do trato gastrointestinal.
Além dos danos físicos, os microplásticos podem causar danos tóxicos aos seres vivos. Isso ocorre porque esses plásticos, por conta do seu tamanho, apresentam uma grande capacidade de absorção de compostos de alta toxicidade, como metais pesados (mercúrio, cádmio, etc).
Impacto dos microplásticos nos ambientes marinhos
Macroplásticos deteriorados formam microplásticos, que afetam a fauna marinha.
O estudo sobre a presença de microplásticos na fauna marinha iniciou-se em 1970. Segundo a pós-doutora em Oceonografia Jacqueline Santos Silva Cavalcanti, a partir dessa data, cerca de 270 táxons (grupos de seres vivos) diferentes de ambiente de água salgada foram verificados com a presença de microplásticos em seu interior.
Os microplásticos podem ser encontrados em forma de fragmentos, fibras e grânulos. Em virtude de seu pequeno tamanho, esses plásticos atingem a base da cadeia alimentar, afetando toda a fauna aquática.
Como no ambiente marinho existem hidrocarbonetos e metais pesados, os microplásticos causam efeitos tóxicos nas células dos seres vivos marinhos que ingerem essas partículas.
Microplásticos nos cosméticos
Os microplásticos estão presentes, principalmente, em cosméticos que tenham como objetivo esfoliar (remover de células mortas e impurezas), como cremes para rosto e corpo. Nesses produtos, estão presentes esferas formadas por polietileno.
Os microplásticos estão presentes também em sabonetes corporais e faciais, em cremes dentais e em produtos de perfumaria (perfumes e desodorantes).
Xampu contendo microplásticos em sua composição.
Proibição dos microplásticos
Desde que foi verificada a primeira ocorrência de microplásticos no ambiente aquático, a quantidade dessas partículas nesse ambiente só vem aumentando, causando danos à biota aquática.
Em decorrência da preservação ambiental e de seres vivos marinhos, já existe um consenso entre os países do planeta sobre a necessidade de implementar e aplicar formas de reduzir o descarte de plásticos no ambiente aquático. O Reino Unido, por exemplo, determinou que, a partir do mês de janeiro de 2018, seria proibida a fabricação de cosméticos ou produtos de higiene que contivessem microplásticos em sua composição.
Alguns estudos identificaram a presença de microplásticos também nas fezes humanas.