• Adilson Mota
Espírito – É verdade, a minha situação é mais cômoda. Não preciso de órgãos para me comunicar, não preciso de línguas, nem de verbalizações, só preciso entrar em relação com o outro e assim sentir aquilo que ele é, o que deseja, o que venera, a que aspira. Eu consigo perceber não só o que ele pensa, mas também o que sente, o que viveu e o que pretende viver. Além disso, o meu pensamento me transporta por que eu sou “leve”. Basta querer e lá estou eu, não importa a distância ou o local.
Alma – Para tudo que eu preciso fazer, o corpo biológico é o meu veículo. Ele ainda se arrasta pelo solo para se locomover, torna lentos os meus passos e ainda, devido à sua densidade ele gasta muita energia e se desgasta facilmente. O Criador dos mundos, entretanto, como Pai bondoso, deu-me todas as noites a possibilidade de ir me retemperar nesse mundo em que você vive. Liberto-me provisoriamente do corpo de carne e vou ter com os meus. Aproveito para viajar na velocidade do raio e vou a mundos distantes enchendo-me de saudades e de uma certa melancolia quando aqui aporto novamente pela manhã, quando o meu corpo desperta do sono em que ele se refaz.
Espírito – Nesses momentos alma e espírito tornam-se quase um só, você quase se iguala a mim. Quase por que você ainda se mantém ligada a esse corpo que é o seu fardo e o seu professor.
Alma – O magnetismo é o que estabelece essa ligação. Eis uma grande diferença entre eu e você. Quando eu toquei esse corpo pela primeira vez algo aconteceu. Um mecanismo foi disparado fazendo com que a energia vital da natureza transmitisse a minha vida para ele. O que poderia ser apenas um aglomerado de células tornou-se orgânico. O corpo tomou vida enquanto eu me tornei cativo dele. As minhas sensações são aquelas que o meu grilhão consegue ter. Tão limitadas! E tantas vezes acabo me rendendo e amando essas sensações! Já você, meu irmão, que sensações deve experimentar com a sua liberdade!
Espírito – Eu não tenho como traduzir numa linguagem que você entenda, querida alma, as sensações com as quais eu convivo, que perpassam o meu ser, que invadem o meu íntimo. As alegrias são mais fortes, pois que não tenho um corpo amortecendo-as. Do mesmo modo, as tristezas perfuram o meu ser fortemente quando eu me deixo por elas levar.
Alma – Você é mais sensível que eu. Em mim, tanto as impressões boas quanto ruins são abrandadas pelo meu instrumento grosseiro de aprendizado. Isolada aqui na matéria, eu me sinto às vezes numa corda bamba prestes a cair nas tentações e nos arrastamentos a que o corpo me submete. Felizmente, de vez em quando eu me comunico com você, Espírito, nos momentos de reflexão, de introspecção, de emancipação. Assim eu posso beber da sua sensatez. Você me faz lembrar dos meus compromissos, você que é muito mais antigo que eu, de uma vastidão muito maior que a minha. Desses contatos eu sempre volto pensativa. Às vezes esses encontros me fazem sofrer, quando eu percebo que não estou fazendo como deveria. Você alerta a minha consciência e isso às vezes dói, quando eu não estou seguindo o caminho que você traçou para mim.
Espírito – Este é o meu papel, pois é de meu interesse que você consiga realizar todo o planejamento. Só assim eu posso crescer, armazenar conhecimentos e refinar os meus sentimentos. A você eu sou muito grato, alma amiga, pois é através das suas lutas e sacrifícios que eu me purifico.
Alma – Eu sou a sua projeção aqui na Terra, sou uma das suas faces moldada pelo meio em que habito e por tudo que eu vivo. Ao retornar em definitivo para o Mundo Espiritual me somarei aos milhares de experiências que você acumulou durante sua existência. Sei que assim serei mais feliz, mas enquanto aqui estiver, valorizarei cada dia, cada instante até que eu aprenda a submeter esse corpo que por enquanto é mais forte que eu.
Espírito – Assim será, pois do teu esforço sairás límpida da Terra e serás mais um personagem por mim vivido, acumulando luz num progresso sem fim.
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Se pudéssemos comparar, a alma representa a persona, a máscara, o personagem vivido no grande teatro da vida. O Espírito é o ator que se expressa de maneiras diferentes a cada peça em que atua. O autor é Deus que dispôs para nós os cenários, as vestimentas e tudo o mais que é necessário ao enredo da vida, deixando que atuemos com liberdade de expressão, mas respondendo sempre por aquilo que fizermos.
Diálogo entre o espírito e a alma – parte 2/2
jul 19, 2018Bruno FonsecaColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Diálogo entre o espírito e a alma – parte 2/2Like
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