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quinta-feira 28 novembro 2024
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Devem-se publicar as mensagens mediúnicas?

• Gerson Sestini
Entre os médiuns psicógrafos, há aqueles que gostariam de ver publicadas as mensagens que recebem, sem se dar ao trabalho de analisá-las com verdadeiro espírito crítico, confrontando a matéria recebida com os ensinamentos contidos na Codificação Espírita. Agindo com precipitação, procuram logo alguém que as possam colocar nos jornais e boletins, levando o responsável por sua edição a satisfazer seus desejos. Em se tratando de publicações restritas aos centros espíritas, não se vê praticamente nenhum mal, contudo, na maioria das vezes, elas não têm valor doutrinário ou literário, estão ali somente para agradar o companheiro que se inicia no seríssimo trabalho da psicografia, cheio de escolhos, desde que voltado às bases da Doutrina Espírita. Se não passarem destas publicações, apenas estarão ocupando lugar de artigos mais importantes.
Esse pode ser o começo da carreira dos médiuns que embora sem testar convenientemente suas faculdades, encontram editores para seus trabalhos, sejam de mensagens vazias ou pueris, sejam de romances insossos. Se analisados sob a ótica espírita, muitos deles não se enquadram nem mesmo como obra espírita, pois o médium psicógrafo não precisa ser espírita para receber e publicar escritos recebidos do Além. A este propósito, temos uma famosa médium que lança com sucesso seus romances e que, em se afastando do movimento espírita, confessa-se não mais adepta à sua doutrina.
Temos ainda um bom número de médiuns que se empenham em treinar a psicografia nos centros espíritas e que poderiam se tornar médiuns conselheiros, tão necessários aos grupos espíritas. Yvonne Pereira recomendava que se desse ênfase a esse tipo de atividade mediúnica. Mas eles costumam deixar os estudos de lado e não se esforçam para levar o trabalho adiante com método e seriedade, dedicação e amor, renunciando à vaidade de verem seus nomes em publicações.
Já vai longe o tempo em que certos dirigentes de pouco conhecimento doutrinário diziam que os psicógrafos analfabetos seriam os melhores, ‘porque a mensagem sairia com a letra do próprio espírito’. Alguns deles sequer leram “O Livro dos Médiuns” antes de dizerem tais impropriedades. Os tempos atuais, entretanto, depois de superada a fase primordial de implantação do Espiritismo nas bases sólidas da Codificação, mostram-nos que o exercício da mediunidade na atualidade ressente-se ainda dos esforços dos médiuns. Torna-se necessário que eles se modifiquem interiormente e façam a necessária reforma íntima para poder trabalhar sob a proteção e orientação dos Espíritos Superiores, impedindo a presença de espíritos incapacitados para tal mister, ou mesmo de mistificadores.
Diante do quadro que o movimento espírita se nos apresenta, com as obras da codificação colocadas de permeio a um grande número de novos títulos nas livrarias, principalmente de livros psicografados, torna-se oportuno saber a opinião da Allan Kardec sobre o assunto. Em artigo da Revista Espírita de março de 1863, há 156 anos, portanto, temos uma informação que pode ser transposta para o momento atual sem receio de estarmos lidando com assunto superado. Aplicando o princípio do ecletismo, ou variedade das comunicações psicografadas que lhes eram enviadas, o mestre lionês fez um estudo sobre 3600 delas, vindas dos mais variados pontos da França e do exterior. Ele então constatou que 83% delas eram de moralidade irreprochável, entretanto, nem 10% mereciam publicidade. E entre esse diminuto percentual, apenas 1/3 tinha mérito fora do comum. E Kardec, então diz: “Por aí se pode julgar da necessidade de não se publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos”.
Eis aí, caro leitor, um assunto para se meditar e tirar conclusões.