• Astolfo O. de Oliveira Filho – Revista Virtual O Consolador
Por que o Espiritismo não admite as penas eternas?
A resposta a essa pergunta é por demais simples. A tese da eternidade das penas reservadas àqueles que infringem as leis do bem e do amor, tanto quanto a existência do inferno, não resistem a uma análise objetiva. O raciocínio lógico conduz-nos à seguinte premissa: Se o Espírito sofre em função do mal que praticou, sua infelicidade deve ser proporcional à falta cometida.
Cumpre considerar também que a condenação perpétua não se coaduna com a ideia cristã da sublimidade da justiça e da misericórdia divinas. Jesus deu testemunho da bondade e do amor de Deus, ao afirmar que o Pai celeste não quer que pereça um só de seus filhos.
A razão leva-nos à admissão de que Deus é, como ensina o Espiritismo, um ser infinito em suas perfeições, pois é filosoficamente impossível conceber o Criador de outra maneira, visto que, se Ele não apresentasse infinita perfeição, poderíamos conceber outro ser que lhe fosse superior. Sendo, portanto, infinitamente sábio, justo e misericordioso, não podemos crer que tenha criado pessoas para serem eternamente desgraçadas em virtude de uma falta ou de um erro passageiro, derivado evidentemente de sua própria imperfeição.
A doutrina das penas eternas consubstanciada na teologia católica surgiu das ideias primitivas que conceberam a existência de um Deus irado e vingativo, a quem o homem atribuiu características puramente humanas. O fogo eterno é uma figura de que se utilizou para materializar a ideia do inferno, com vistas a ressaltar a crueldade da pena, no pressuposto de que o fogo é o suplício mais atroz e que produz o tormento mais efetivo.
Essas ideias serviram, em certo período da história da Humanidade, para controlar as paixões de criaturas ainda imperfeitas, mas não servem ao homem da atualidade, que nelas não consegue vislumbrar sentido lógico.
Jesus valeu-se das figuras do inferno e do fogo eterno para pôr-se ao alcance da compreensão dos homens de sua época. As imagens fortes que utilizou eram, então, necessárias para impressionar a imaginação de indivíduos que pouco entendiam das coisas do Espírito e cuja realidade estava mais próxima da matéria e dos fenômenos que lhes impressionavam os sentidos físicos. Mas também foi Ele quem enfatizou a ideia de que Deus é Pai misericordioso e bom e afirmou que, das ovelhas que o Pai lhe confiou, nenhuma se perderia.
Deus pune? Deus é justo? Deus perdoa?
Segundo os ensinamentos espíritas, podemos afirmar com toda a segurança: Deus não pune, Deus é justo e, por isso, Deus perdoa as faltas que cometemos. Aliás, não é isso que Jesus fez constar na Oração Dominical: “Pai, perdoa as nossas faltas, assim como perdoamos aos nossos devedores”?
O Criador evidentemente estabeleceu leis que regem a vida em todo o Universo. Se as infligimos, devemos sofrer-lhes a consequência. Foi o que levou Jesus dizer a Pedro: “Todo aquele que usa a espada para matar, morrerá sob a espada”.
Uma pessoa que reencarne apresentando um processo de retardamento mental não é uma vítima do castigo divino, porque em muitos casos ele já se encontrava assim na pátria espiritual, muitas vezes por causa de um equívoco, de um ato insano, como um tiro desferido contra a própria cabeça. Nascer com a deficiência não significa que ela esteja sendo punida. Digamos que ela esteja colhendo, tal como Jesus explicara ao dizer que a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.
Deus é justo e bom. Tais atributos, ensinados pela filosofia clássica, são confirmados pelo Espiritismo. E é por isso que perdoa, embora seu perdão não consista na anulação do que fizemos, mas sim na oportunidade que Ele nos oferece de repararmos os erros cometidos. Daí advém a necessidade das existências sucessivas, ou reencarnação, que nos dá os meios de fazermos aos outros o que deveríamos ter feito e não fizemos.