No nosso mundo ocidental reina cada vez mais a indiferença em relação a Deus, em quem acreditam minorias cristãs ou pertencentes às outras religiões monoteístas, ao ponto de se falar de um tempo não só secularizado, mas pós cristão.
Até o Iluminismo, não se colocava em dúvida a existência de Deus, que era considerado necessário quase para todos. A mudança da modernidade ocorreu precisamente quando a afirmação da existência de Deus deixa de se impor como necessária.
Primeiro a ciência, depois a filosofia, e portanto a política, reivindicaram a liberdade a autonomia da religião, e assim o homem moderno aprendeu a viver sem Deus, a pensar e a viver na ausência de Deus, “como se Deus não existisse”. Nesse processo histórico concreto, Deus perdeu pouco a pouco o seu ser para a humanidade e para o mundo.
Podemos, todavia , afirmar que o “desaparecimento” de Deus tem um sentido para a própria fé: o ser humano libertou-se de Deus e do medo de Deus,conquistando a sua liberdade perante Ele. Este fenômeno de incredulidade e de ateísmo,por agora, só se desenvolveu no mundo cristão, isso tem um significado: é um efeito do espírito do Evangelho, que ensina que esta liberdade e permite ao ser humano aproximar-se de Deus em plena gratuidade.
A modernidade pode, assim, ser lida também como insurreição do Evangelho contra a religião, porque Deus quer o homem livre.Um Deus sobre a cruz não nos ameaça, mas deixa-nos a liberdade de crer e de não crer.
Deus é,antes , a suprema gratuidade que nos abre o espaço infinito da liberdade, e a busca por El que nós realizamos é sempre uma busca de humanidade. A fé cristã refuta garantias, enquanto a religião as oferece. Por isso, acreditar em Jesus Cristo é um ato de liberdade, por isso a fé não é alienação, mas é uma convicção que ajuda os humanos a encontrar sentido na vida, desenvolvendo relações de fraternidade, praticando a solidariedade com os outros, sobretudo com os últimos os mais frágeis.
Por José Pereira da Silva – Professor de História