O deputado federal Jean Wyllys (Psol – RJ) disse que vai desistir da carreira pública e deixar o Brasil. De acordo com o parlamentar a decisão foi tomada por conta de ameaças que ele vem sofrendo.
Nas redes sociais, Jean Wyllys compartilhou a entrevista e soltou um breve comunicado. “Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!”, escreveu.
“Eu já vinha pensando em abrir mão da vida pública desde que passei a viver sob escolta, quando aconteceu a execução da Marielle. Antes disso, havia ameaças de morte contra mim…mas nunca achei que pudessem acontecer de fato”, contou o parlamentar.
“Mas, quando rolou a execução da Marielle, tive noção da gravidade. Além dessas ameaças de morte que vêm desses grupos de sicários, de assassinos de aluguel ligados a milícias, havia uma outra possibilidade: o atentado praticado por pessoas fanáticas religiosas que acreditavam na difamação sistemática que foi feita contra mim”, completou.
“O partido reconhece que de fato eu sou um alvo e me deu apoio na minha decisão de não voltar. Reconhece que são graves as ameaças contra mim, que eu corro risco, que há uma vulnerabilidade maior pelo fato de eu ser identificado com a causa LGBT. Lamenta, claro, mas apoia minha decisão.”
Jean alegou que o que chamou “aumento do nível de violência” após a eleição de Jair Bolsonaro como presidente também pesou na decisão. “Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. E o cara botou uma imagem de uma santa no lugar. “Numa única semana, três casais de lésbicas foram atacados. Um deles foi executado. A violência contra LGBTs no Brasil tem crescido assustadoramente”, explicou.
Ele ainda disse que foi aconselhado a sair do País pelo ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica: “Ele falou para mim: ‘Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis.’”
Ele ainda citou dois casos que considera emblemáticos. “A violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marilia Castro Neves, desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num grupo de magistrados no Facebook. Ela disse que era a favor de uma execução profilática, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o pano que limparia a lambança”, contou sobre desembargadora que pediu a morte do parlamentar nas redes sociais.
Sobre o processo vencido contra o deputado eleito Alexandre Frota , Wyllys também se considerou injustiçado. “A pena imposta, por exemplo, ao Alexandre Frota não repara o dano que ele produziu ao atribuir a mim um elogio da pedofilia. Eu vi minha reputação ser destruída por mentiras e eu, impotente, sem poder fazer nada. Isso se estendendo à minha família. As pessoas não têm ideia do que é ser alvo disso”, explicou.
“Há uma bancada inteira eleita com base em mentiras, inclusive contra mim. Eu venci processos contra umas cinco pessoas que me caluniaram. Só que esses processos não reparam o dano que isso causou na minha vida e na vida da minha família”, disse Jean.
Em novembro do ano passado. a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão ligado à OEA, cobrou que o Estado brasileiro assegurasse proteção ao deputado federal e à sua família. Por meio de medida cautelar, a comissão cobrou ainda que o governo investigasse episódios de “ameaças e difamação” que “aumentam a situação de vulnerabilidade” do parlamentar, ao “torná-lo alvo do ódio de setores da sociedade”.
A exigência da CIDH atendeu um pedido apresentado pelo próprio deputado. Segundo a comissão, as provas apresentadas “demostram que o senhor Jean Wyllys se encontra em uma situação de gravidade e urgência, posto que seus direitos à vida e à integridade pessoal estão em grave risco”.
Sobre o futuro, o parlamentar fez mistério e disse que não vai revelar onde está passando férias e nem para pretende se mudar. “Eu sou professor, dou aula. Eu escrevo, tenho um livro para terminar. Eu vou recompor minha vida. Eu vou estudar, quero fazer um doutorado. Vou escolher um lugar onde eu possa fazer meu doutorado, que eu não pude fazer durante esses anos. Vou tocar minha vida dessa outra maneira”, disse.