Hoje, temos no Brasil muita gente falando sobre Cultura Maker, mas poucos sabem o que verdadeiramente significa ser um maker. Há muitas informações distorcidas sobre o assunto e há também grandes limitações sobre o tema. Portanto há quem diga que para ser maker é preciso que o indivíduo seja especialista em tecnologia digital com grande conhecimento em CNC, Arduaíno e Robótica para que seu produto final seja construído. Isso é uma grande besteira! Ser Maker é fazer por conta própria e compartilhar, mostrando o que você fez e como foi feito. No entanto para quem quer se aprofundar no tema, sugiro que leia o livro “Maker: a nova Revolução industrial”, de Chris Anderson.
A revista digital MakerZine, personagem elementar da cultura maker, em seu editorial, apresenta projetos onde nenhuma tecnologia digital é utilizada. Comprovem no link https://makercamp.com/projects/garden-irrigation-system.
Todo mundo trabalha junto, em rede, mesmo quando está sozinho, tudo é feito em colaboração. Qualquer um pode pegar uma ideia que já foi trabalhada e recriar, fazer aberto de novo e dar continuidade aos trabalhos para que outros possam utilizar a sua ideia.
É conceito do open source – tudo é feito em colaboração, inclusive em equipes que trabalham juntas, de carne e osso, construindo as coisas em colaboração.
Sustentabilidade – a cultura que evita o desperdício, saber usar os recursos que estão disponíveis sem desperdício.
Escalabilidade – na cultura maker tudo que é criado pode ser replicado, multiplicado, ganhar escala gastando pouco.
Maker fer – feira maker – há muita gente visitando feiras maker pelo mundo afora. É muita gente maker-fazendo e colaborando entre si. Tem muita equipe dando suporte para o desenvolvimento dessa cultura colaborativa.
As feiras são locais de troca de informação e encontros de troca de saberes e fazeres regulados por novas invenções.
Maker space – é um lugar aberto e colaborativo onde o maker pode criar e desenvolver os seus protótipos.
Criado em 2001, por professores do MIT, como um conceito novo de laboratório de fabricação, o sistema Fab Lab abriu espaço para uma rede internacional de colaboração para fabricação de produtos desenvolvidos pelos participantes. Hoje, já são mais de 1.300 fab labs espalhados em mais de cem países, com 52 unidades aqui no Brasil. Esse tipo de cultura tem sido muito importante no desenvolvimento de novas tecnologias entre os jovens, além de servir de suporte para a construção de projetos de vidas juvenis com avanços significativos através do protagonismo dos adolescentes tornando-os mais criativos e autônomos.
Qualquer ferramenta pode auxili,ar no desenvolvimento de novas ideias, abrindo espaço para a prática do saber e seu compartilhamento. Muitas ferramentas podem ser incorporadas a cultura maker, mas na medida que as pessoas vão desenvolvendo suas habilidades, elas podem incorporar uma impressora 3D, uma cortadora laser, um serrote , uma serra tico-tico, um soldador Tiger ou qualquer outra ferramenta que sirva para aparelhar uma peça ou modificar com seu sistema de corte uma estrutura sólida transformando-a em uma peça ou em uma engrenagem. Na cultura maker, o que não pode é ficar preso em um único conceito.
Nessa cultura, o que vale é a diferença, e quem faz a diferença são os makers transformando suas ideias em protótipos prontos para revolucionar as fábricas e a sociedade. Nessa cultura tudo é aberto, sem direitos autorais, conforme escreve o escritor do livro The Long Tail – livro cauda longa -, “é o auge do faça você mesmo”.
Esse conceito colocado dentro educação tem gerado pontos importantes somando prática e a teoria, facilita a aprendizagem entre os alunos, na medida em que as variáveis de troca servem de base para a construção do saber. Os exemplos são muitos e favoráveis, pois aproximam o mundo real e a sala de aula colocando o aluno cara a cara com os desafios do cotidiano. Essa proximidade deixa os alunos com seu protagonismo mais aguçado, dando sentido prático à criação. Nesse sentido, as ferramentas funcionam como um estimulante aos desafios teóricos da sala de aula, colocando os jovens diante de um novo sentido de identidade, ou seja, a ideia de pertencimento sobre o espaço ocupado ganha mais sentido, evitando que o amadurecimento de um trabalho se dê fora do tempo de sala de aula, depois que o aluno deixa a escola. Nesse caso a Cultura Maker funciona como uma ferramenta de atualização, evitando perguntas bastante comuns nos corredores das universidades e das escolas de ensino médio que colocam em dúvida o trabalho docente com alunos insinuando sobre “o que estou fazendo aqui? isso não é para mim”.
Para muitos estudantes, há um distanciamento entre o mundo real e o da sala de aula. Na Sala de aula, o estudante atua com a cabeça, mas é no mundo real onde ele atua com o corpo inteiro. Existe um distanciamento entre esses dois universos- característica do ensino – aprendizagem foco nas ferramentas do que nas coisas que podemos fazer com elas – mundo real e que queremos fazer com elas. O mundo das ferramentas e as indicações que exigem do futuro, fazem uma com os alunos não adquiram a identidade,, ou seja, a ideia de pertencimento sobre aquele espaço. Ficamos fora da realidade e com foco no significado de um trabalho maduro, que só vem com o aperfeiçoamento do profissional, quando o estudante já deixou a escola.
A construção de um projeto de vida leva os estudantes a fazerem uso da criatividade, dividindo espaço e aperfeiçoando suas tarefas ao longo da vida, evitando menos dependência do “euquipe” que ainda emperra os trabalhos dentro e fora das escolas. Nesse novo modelo de fazer, as inadequações surgem, mas rapidamente são resolvidas com eficiência, na medida em que o processo criativo vai se multiplicando em várias direções.
O fazer maker não implica no fazer algo em casa, mas é um movimento intenso de fabricação de maneira coletiva de troca de informação. É a construção de uma rede colaborativa, capaz de dar sentido as novas ideias e a sua construção através de um processo prático. Saber buscar e encontrar a informação no meio digital que é o detentor da informação na sua totalidade conectando a um conjunto de saberes, faz diferença, principalmente, na hora do desenvolvimento do produto. O uso da educação como base do próprio saber adquirido e o saber compartilhado facilita a organização e a criação, dando mais qualidade e acabamento na finalização do produto. Diante disso se faz necessário saber dar sentido as coisas através da ordem criativa para aproveitar os espaços, construindo novas tecnologias adaptáveis a mundo trabalho, volatilizando as ideias e suas construções em todos os momentos da vida escolar e cotidiana.
O maker produz e usa informação de maneira simultânea. É um verdadeiro ir e vir entre as situações-problemas que entram em rede, colocando soluções aos problemas apresentados, aprofundando a troca de saberes orientando e reorientando os estudantes em múltiplas direções. É nesse momento que surge a História como uma verdadeira bússola para no processo de desenvolvimento, servindo de suporte a Arte, a Literatura e a Matemática, colocando todas as ciências em ebulição.
STEAM – Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática – já têm sido aplicado em diversos países do ensino fundamental, com excelentes resultados, aqui no Brasil tem sido bastante discutido para o ensino fundamental, mas pouco se faz dele no Ensino médio e nas universidades. No entanto, desenvolver o ensino e valorizar o professor aplicando novas estruturas formativas, faz-se necessário para que todos possam fazer uso das novas tecnologias com mais propriedade, ou seja, é preciso desalienar o sistema para que possa desenvolver o ensino através da construção de um sistema intelectual e orgânico. Hoje, temos muitos exemplos do cotidiano das ciências e sua capacidade laboral como meio de aprendizado: a cozinha e a química , a compra no supermercado e a matemática, a física e a poluição, a genética , a história a sociologia , a filosofia , a literatura e os acontecimentos e as crônicas estão no cotidiano evidenciando a importância do saber coletivo e suas prioridades voltadas para o desenvolvimento da técnica, da ciência e do ser humano.
O conhecimento não é um direito, o conhecimento é um poder e poder se conquista através do saber e da construção de novos espaços e, para que isso possa ocorrer verdadeiramente , precisamos de novas ferramentas criativas, com troca de conhecimento com amplas possibilidades de gestão, respeito e ética ao fazer humano. Essa proposta de laboratório aberto pode revolucionar mais a sociedade e o seu fazer, evitando a coisificação do trabalho e os domínios do capital frente ao processo de financeirização do mundo e a volatilização dos mercados, reconstruindo os conceitos de busca e a troca de saberes entre as pessoas valorizando as ideias coletivas.
Cada vez que buscamos evoluir frente um novo sistema, surgem os obstáculos impostos pelo capital e pela orientação sistêmica de certo neocolonialismo que divide o saber, os mercados, a produção, a educação e modo de vida das pessoas alterando sua capacidade produtiva com uma dependência cada vez maior sobre todos. Essas atitudes recriam formas mais dinâmicas de uma globalização dos mercados que deixa de lado a capacidade produtiva humana e prazer de se fazer pelo fazer, então está na hora de colocar em prática esse sistema de feira de makers – maker fer, para que a partilha dos bens produzidos saiam desse modelo, levando o aprender a aprender a um saber fazer coletivo, apoiando os trabalhos e adaptando as necessidades imediatas da humanidade a um mundo real cheio de si mesmo. Esse tipo de atitude coloca sob o alcance de todos as ferramentas digitais para que os espaços, por mais adversos que sejam, possam interagir e gerar novas possibilidades, resultando em produtos e em ideias, revolucionando o Planeta de maneira sustentável. O mundo precisa ser um código aberto – Open source –para que todos possam beneficiar-se da sua produção fazendo valer o papel das comunidades e seus direitos a uma qualidade de vida com respeito em todos os sentidos.
Open source é um termo em inglês que significa código aberto. Isso diz respeito ao código-fonte de um software, que pode ser adaptado para diferentes fins. O termo foi criado pela OSI (Open Source Initiative) que o utiliza sob um ponto de vista essencialmente técnico.
Oswaldo Macedo