No começo do ano de 2019, meu varal de roupas, aqueles de chão, bem práticos, despencou derrubando as roupas e lá fui eu lavar tudo de novo. Olhei para o varal quebrado, já considerando a ideia de comprar um novo, mas havia uma máquina cheia de roupas e precisava resolver o problema. Então, na base da improvisação, amarrei o coitado com dois cadarços velhos e cada um de uma cor, branco e preto. Ficou maravilhoso…ha ha ha ha.
Na verdade, a improvisação serviria até comprar um novo varal. Mas, como sempre acontece, o tempo foi passando, passando, e nada de comprar um varal novo até que, um dia, cheguei à conclusão, para que comprar um novo se aquele estava bem amarrado e me servindo?
Deixa pra lá, tá bom assim. Então, a ideia de um novo varal caiu no esquecimento.
Uma semana antes da 1° Bienal, que ocorreu em agosto/2019, uma grande amiga de São Paulo-Capital, a excelente poetisa Cris Arantes, que viria para a Bienal, me ligou e me perguntou se eu tinha um varal de chão para emprestar, ela queria expor suas poesias e para trazer de São Paulo para cá seria difícil porque o carro estava lotado e não caberia um varal.
É um projeto legal, ela pendura as poesias no varal e o público pode escolher, gratuitamente, a sua poesia e levar para casa.
Sem lembrar que meu varal estava amarrado com cadarços velhos, prontamente disse que levaria para um varal para que pudesse expor e doar suas poesias.
Na véspera do primeiro dia da Bienal, à noite, querendo deixar o carro pronto para a manhã seguinte, fui pegar o varal para colocar no carro e, só então, lembrei que o danado estava naquele estado. Não dava mais tempo de providenciar outro e ela precisava do varal.
Deixei de lado a vergonha de emprestar um varal naquelas condições, desamarrei os cadarços velhos, coloquei o varal no carro, e coloquei os cadarços também, e, dia seguinte, levei para o primeiro dia de Bienal. Chegando lá, com um sorriso amarelo no rosto e bem envergonhado, pedi desculpas pelo estado do varal, montei e amarrei o danado.
Minha amiga e toda a turma de São Paulo caíram na risada e encaram numa boa meu varal amarrado com cadarços velhos e, olha, o resultado foi um sucesso. Cheio dos pequenos e coloridos pedaços de papel, recheados de deliciosas poesias, o varal foi um sucesso total, a despeito de estar amarrado com cadarços velhos e de cores diferentes.
No final da Bienal, minha amiga toda grata, me devolveu o varal, desamarrei, coloquei no carro e levei para casa e o deixei caído em um canto, com a certeza de que iria comprar outro varal.
Eis que os dias passam, fui lavar roupas e lá estava meu varal, cansado, caído, prostrado, e com os velhos amigos cadarços ao lado. Mais uma vez, precisava lavar roupas e estender. Então, olhei para o varal caído, montei, amarrei e, feliz, estendi minhas roupas com o pensamento de que precisava trocar o varal, mas mais uma vez os dias foram passando, semanas, meses e o varal, guerreiro, suportou muitas vezes minhas roupas e até enfrentou o período de covid, não esmoreceu, não se contaminou, e continuou vivo e unido com os dois velhos amigos.
Três anos passaram e chegou a 2° Bienal, em agosto de 2022. E, mais uma vez, o combalido, mas firme, varal foi solicitado. E, com outro sorriso amarelo, levei o danado desmontado para a Bienal e, entre muitas risadas com os amigos da capital São Paulo, o varal foi montado e amarrado. E, olha, novamente, meu varal, amarrado com dois velhos cadarços de cores diferentes, deu conta do recado e, mais uma vez, o varal de poesias da Cris foi um sucesso.
No meio de muitas risadas, outra grande amiga me disse que eu deveria, como São Paulino que sou, pelo menos, colocar um cadarço vermelho, pra ficar tudo Tricolor. Tive que dar razão a ela, vou providenciar, só não sei se os que lá estão, vão aceitar o intruso.
De qualquer maneira, não sei se meu varal aguenta até a próxima Bienal, em 2024. Acho que vou comprar um novo, de qualquer maneira, meu velho e cansado varal, além de muito útil, pode ser chamado de cultural. É um varal de roupas e…de poesias.