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sexta-feira 8 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Uma chacrinha…

Um tempo atrás, um amigo meu comprou uma “chacrinha”, como ele mesmo disse. Todo entusiasmado me falava constantemente da danada e nos finais de semana, cadê o Augusto? Lá ia ele com a esposa e os dois filhos pra “chacrinha”. E assim foi…um final de semana, dois finais de semana e aguenta o Augusto, era “chacrinha” pra lá, “chacrinha” pra cá, plantou alface, cebola, rúcula, agrião e sei lá mais o que, a horta estava linda, disse ele. Ainda plantou um pé de laranja, um de limão, dois de jabuticaba (e lá vão uns dez anos para dar frutos), dois pés de acerola, uma goiabeira e um pé de mamão. Manga não precisava, já tinha quatro pés de manga, que sorte.
Mais um fim de semana, mais dois e consertou o telhado, a garagem, pintou a cozinha e arrumou a pia que estava entupida e, para completar, capinou metade do espaço em volta do lago, mas por causa da dor nas costas deixou metade para outro final de semana.
Dois finais de semana depois, ele me disse que a esposa encontrara uma aranha enorme no armário do quarto e outra no banheiro e, para piorar, uma cobra perto da horta, mas era legal passar o final de semana lá. Um mês depois disso, perguntei se dava pra pescar e se tinha peixe no lago da “chacrinha” e me disse que sim, porém, estava cheio de mato em volta do lago. Por causa da dor nas costas não capinara a segunda metade, veio a chuva e o mato cresceu onde já havia capinado, além do mais, perdera um final de semana tentando consertar o sistema que trazia água do morro em frente, sem contar que teria que fazer nova fossa porque a que tinha estava entupindo e na semana seguinte me disse que encontrou uma aranha enorme morta no porta-malas do carro. Só Deus sabe como entrou lá, sem falar naquela que matara de madrugada quando levantou para ir ao banheiro.
Mais um final de semana e, dessa vez, teve troca de chuveiro, conserto da porteira da “chacrinha” e mais uma aranha, agora na sala e no final de semana seguinte, não sabia porque, ficou sem luz elétrica e a esposa ainda brigara com ele porque encontrou mais duas aranhas na casa e uma cobra perto da porta da cozinha. Comprou seis galinhas para resolver o problema das cobras e aranhas. Me disse que estava desesperado com os pés de manga, não conseguia consumir, distribuía pra todo mundo e ainda sobrava pra fazer doce, suco, almoçar, jantar e comer no café da manhã e ainda tinha que aguentar o mau cheiro das mangas apodrecidas no chão e haja mosca varejeira. Todo fim de semana tinha que varrer as malditas mangas estragadas, sentindo o mau cheiro. Uma delícia, ficava muito feliz com isso, adorava as mangueiras. Estava contente com a “chacrinha”, era gostosa, bonita, uma delícia o contato com a natureza mas dava um trabalho danado. Duas semanas depois perguntei da horta e me disse que as galinhas pularam a cerquinha e acabaram com ela. Perguntei se as galinhas, pelo menos, acabaram com as aranhas? Me informou que haviam sumido quatro galinhas, não sabia se tinha sido onça ou algum ladrão e se as galinhas estavam sumindo, as aranhas continuavam aparecendo, não sabia o que fazer. Um mês depois, em uma sexta-feira, perguntei sobre a “chacrinha” e me disse o seguinte:
— Só de pensar que tenho que ir lá amanhã já fico desanimado…estou cansado, vou lá só pra trabalhar. Não tenho descanso.
Dois meses depois, encontrei com ele e estava cabisbaixo, andar cansado, com olheiras e perguntei o que havia acontecido.
— Meu Deus, não dá. Não aguento mais, as galinhas sumiram e aquilo encheu de mato por todo lado, e tem mais aranha e cobra naquele lugar do que peixe no lago.
Aliás, sei que está querendo vender a “chacrinha” pela metade do preço que comprou.
Veio me oferecer, mas disse pra ele que prefiro passar os finais de semana em casa mesmo…descansando. Uma boa notícia é que manga agora só no ano que vem.