O mundo segue, como uma locomotiva fora dos trilhos. Virou de cabeça para baixo e não há mais o tão desejado normal, não há mais abraços, beijos e calor humano.
Uma escuridão disfarçada, uma loucura inimaginável, um apocalipse, o purgatório da Divina Comédia, de Dante Alighieri.
E tudo mudou e como mudou. Começou devagar, longe, mas foi chegando, chegando e fazendo vítimas pelo caminho. Tudo o que se sabia era que não se sabia porcaria alguma.
Mas, o assassino invisível chegou. Implacável.
E agora, as pessoas podem matar ou morrer por uma simples respiração e um espirro, antes tão banal, virou uma arma letal. Tossir? Nem pensar.
O inimigo, invisível, perigoso e implacável, está sempre à espreita.
E quem poderia imaginar que, um dia, mascarados seriam bem vindos e chegou-se ao tempo em que ser dissimulado, falso, mentiroso ou o que quer que seja, tudo bem, mas não pode deixar a máscara cair.
Em outros carnavais cantava-se Máscara Negra, onde mais de mil palhaços e arlequins brincavam alegres pelo salão, mas nos dias de hoje, nem temos mais carnavais e agora, palhaços se revoltaram e insistem em não pintar a cara e nem aceitam usar máscaras, prova de irresponsabilidade e de falta de respeito com o próximo.
O Arlequim não é mais um personagem, deixou de divertir o público e nem tenta mais seduzir e roubar a colombina de Pierrot.
Fim da “Conmedia dell’arte”.
O mundo aos avessos e a ordem fora de ordem e a desordem se embrenha nas mentes destruídas pelo confinamento necessário.
Guerra de opiniões e quem está certo? Quem está errado? O que interessa isso?
Houve um tempo em que pregávamos e cantávamos a utopia do fim das fronteiras, não mais tijolos nos muros, cantava a banda Pink Floyd, ou divisões de qualquer espécie, mas o sonho acabou, destruído pelo ser microscópico e, agora, muros imaginários cercaram os países impedindo o livre trânsito em nome da proteção de cada povo.
Aviões não voam mais, navios impedidos de aportar e trens não são bem vindos e se não for de meu País, é preciso provar sua saúde para respirar aqui.
Empresas pararam, comércio fechou, economia parou, empregos acabando, desempregados se desesperam e, pelas ruas, os excluídos tropeçam pelas calçadas em busca de restos de comida. Um mundo insano, diferente, esquisito.
O antigo futuro não existe mais e nesse presente irreal, absurdo, imprevisto, novas palavras e “coisas” apareceram e se tornaram comuns e, pergunto, de onde vieram as comorbidades? Eu nunca tinha ouvido falar isso.
É protocolo pra lá, protocolo pra cá e, de repente, essa palavra se tornou popular.
E agora álcool gel e máscara (não para todos) fazem parte do cotidiano.
Distanciamento social? Jesus Cristo!
E o tal do “Home Office”? Muitos perguntam, mas que diabos é isso?
Ninguém sai de casa e Delivery para todo lado.
Mundo estranho, insano e inimaginável.
O que temos agora é um mundo fora de sua realidade.
A esperança continua, claro. Temos que acreditar, seguir em frente, confiar que um dia, esse desespero acaba e que a vida vai voltar ao seu normal ou, pelo menos, próximo a isso.
Mas, até sairmos desse mundo irreal, sigamos em frente com muito álcool gel, distanciamento social e máscara!