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domingo 22 dezembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Segunda dose

Obaaa…tomei a segunda dose. E não se trata de uísque ou cachaça não, é a vacina contra a covid mesmo. E tenho mais que comemorar sim, esse vírus maldito me pegou no começo desse ano e fiquei muito próximo de passar para o outro lado, voltar para a casa de onde vim.

Mas, sinceramente, acho que ainda é cedo pra voltar, quero fazer mais algumas coisitas antes, como, por exemplo, assistir mais filmes na telona, afinal, desde que começou a pandemia que não vou ao cinema. Quero ler mais alguns livros…sei lá…pelos mais uns mil, será que dá?

E chegar a cem livros publicados (tá fácil, só faltam 95) e ver um deles se tornar best seller.

Quero voltar a participar dos eventos literários, organizar a II Bienal Literária de Taubaté, que nossa cidade merece, e porque muitos que estiveram na 1°, pedem a 2°, afinal, foi muito boa.

Ainda quero andar pelas ruas sem máscara, já pensou? Que delícia sentir o vento no rosto? Quero cumprimentar meus amigos sem medo, abraçar muito, beijar mais ainda.

Matar saudade dos aniversários, churrascos e da cerveja com os amigos no final da tarde.

Quero voltar ao Morumbi lotado, quem sabe em uma final de Libertadores? Nooosssssaaa!

Quero ver o meu Taubaté de novo na elite do futebol paulista e que saudades do Joaquinzão.

Quero fazer mais caminhadas, trilhas, andar pelo mato, andar de bike, curtir natureza, ver cachoeiras, mato, rio, pescar…ah, ainda tem muita coisa pra fazer.

Quero ser mais humano, mais amigo e gentil. Tá, tá…sei que vai ser difícil, mas vou tentar, né?

Ah, quero muito viajar, conhecer Fernando de Noronha e, quem sabe, a Alemanha, sonho antigo. Quero sentir o inverno rigoroso da Europa e ver neve caindo com abundância.

Ah, que sonho meu Deus. E já que o assunto é sonho, porque não fazer um cruzeiro? Adoraria singrar pelos mares infindos.

Ah, pular de paraquedas ou asa delta nem pensar, eu, hein, morro de medo de altura.

E outra coisa, não dá pra ir embora já, ah, não. E se do outro lado não tem misto quente com ovo, né? E nem pizza portuguesa, já pensou? E lá vem o gordinho pensando em comida…

Ah, tô doido pra tomar uma garapa geladinha no verão e que se dane o danado do açúcar.

É…tem muita coisa pra fazer sim.

E nessa última terça-feira (10/08/21), para minha alegria e agradecendo muito a Deus segui para a avenida do povo e, até me surpreendi, me deparei com quatro filas de carro.

Que bom, bastante gente se vacinando, ótimo.

Mas, assim que entrei na fila, as pernas começaram a tremer, lógico. Havia uma agulha de meio metro me esperando. Tinha certeza, ia doer pra cacete. Oh, meu Deus. Me aproximo do ponto de vacinação e gotas de suor surgem na testa. Nas costas não são gotas, parece uma torneira aberta. Tento me concentrar na música, está tocando aquele rock clássico, épico e maravilhoso, “Have you ever seen the rain” da banda Creedence Clearwater Revival.

Mas, não adianta…vejo, lá na frente, aquela moça vestida de branco, com um instrumento demoníaco na mão, uma seringa, com aquela agulha enorme, assustadora, capaz de atingir os ossos e meus joelhos batem na cadencia da música.

Mais um rapaz, deve ser o décimo, com uniforme do exército, vem conferir meu documento e minha carteira de vacinação. Estico as mãos para entregar, elas tremem pavorosamente.

Agora só tem um carro na minha frente e penso em descer e sair correndo, mas não dá mais a moça de branco me chamou. Tremendo levo o carro até ela e nova conferência nos documentos, subo a manga da camisa, o coração dispara ainda mais e penso na possibilidade do infarto, pelo menos me livraria da agulhada.

Não tem mais jeito, sinto a cutucada rasgando minha pele, minha carne e talvez destruindo meus ossos. Fagulhas de dor explodem, bolas coloridas e lágrimas surgem nos meus olhos, mordo os próprios dentes, quase desmaio e a moça com um sorriso, me diz que acabou.

O líquido abençoado já foi injetado e saio dali aliviado e agradecido. Estou vacinado, ufa!