Imagine a situação, três horas da manhã, acordo com a maior vontade de fazer aquele xixi. A vontade era tanta que, chego até a apalpar o colchão e…ufa! Está tudo bem. Tá sequinho. Abri um sorriso de felicidade e alívio. Conferi o short de dormir e…uau…tá sequinho também. Outro sorriso de felicidade e alívio.
Levanto rapidamente e pela minha cabeça passa a estúpida ideia de tossir e não me segurar, imagine então o estrago caso fosse um espirro? Teria que passar uma hora lavando e enxugando o chão do quarto.
Levanto no escuro mesmo, já decorei o caminho da cama até o banheiro, vou no modo automático e nem abro os olhos, está escuro mesmo. Animadaço para correr ao banheiro e dar aquela aliviada, dou dois passos e vem a fisgada, monstruosa, dolorida, certeira, implacável e grito um enorme “PQP…que dor nas costas”, a musculatura das costas, por algum motivo, reclamou, quase perco o ar e tenho certeza que meus olhos reviraram. Paro na hora, estendo o braço para a esquerda, sei que o meu querido, amado guarda roupas está ali, e me apoio nele. Respiro fundo e dói muito a desgraçada das costas. Mal posso me mover e olho para trás, não enxergo um palmo diante do nariz, nada vejo e me amaldiçoo por não ter acendido a lâmpada do abajur. Custava ter feito isso, né seu Robson?
Com dificuldade, ainda apoiado no abençoado guarda roupas, me viro de volta na direção da cama, engulo em seco enquanto sinto gotículas de suor brotar na testa. Com cuidado, medo, afinal, se cair não levanto, arrasto os pés no chão e começo a voltar para cama. O pior foi quando perdi o contato com o guarda roupas, nunca imaginei que algum dia me sentiria tão dependente dele, aliás, fico até com dor na consciência de não cuidar bem do danado, preciso arrumar a última gaveta, está quebrada faz tempo, não posso esquecer.
Dou dois passos no escuro, me sentindo na beira de um abismo, encontro a cama e com muito cuidado, sento na beirada. Ufa, consegui e quase sorrio feliz, é que estava doendo demais para sorrir. Penso comigo, pelo menos estou na cama, agora não caio mais.
Ai, ai, ai…lá vem a porcaria da lembrança…queria fazer xixi, e agora? Foi só pensar para a vontade aumentar e conclui que dificilmente me seguraria. O que faço? Se levanto, vou sentir dor, corro o risco de travar de vez e até de cair. Se fico sentadinho ali, não corro o risco de cair, mas vou me urinar todo e passar o resto da madrugada, molhado, fedido e com dor nas costas. E como vai ser quando a manhã chegar? Ai meu Deus, uma hora vou ter que levantar.
E eu ali sozinho, porcaria, tinha que acontecer justamente na noite em que meu filho foi dormir na casa da mãe, não podia ser em outra noite? Desgraça pouca é bobagem.
Tomei a decisão, respirei fundo e a dor apertou, a vontade também, tentei levantar, não deu.
Meu Deus! Vou me molhar todo. O que faço?
Rezei desesperado e na confusão, comecei com pai nosso e terminei com ave Maria, no final percebi que havia algo errado, mas não sabia o que.
Vou tentar de novo, respirei fundo, a dor aumentou e quase me mijei. Dei impulso, gritei de dor e fiquei em pé. U-hu!!! Me arrastando, ainda sem acender o abajur, caminhei lentamente em direção ao banheiro. Acendi a luz, ufa, claridade finalmente, e olhei feliz para a bacia.
Mas, já percebeu que quanto mais perto você está do banheiro, mais à vontade aumenta?
Desesperado, botei o amigo para trabalhar, mas a vontade de fazer meu xixi era tanta, que estava quase fazendo o dois.
O que? Sentar na privada, para fazer o dois com dor nas costas? Nem pensar, já pensou se travo ali e não consigo sair da bacia? Eu, hein. Nem pensar.
Bom, para encurtar a história que o espaço está quase acabando…, fiz meu xixi, voltei para cama e agora vou curtir a quarentena me arrastando pela casa.
Affff!
“Crônicas e Contos do Escritor” – Quarentena e dor nas costas
abr 16, 2020RedaçãoCrônicas e Contos do EscritorComentários desativados em “Crônicas e Contos do Escritor” – Quarentena e dor nas costasLike