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quinta-feira 30 janeiro 2025
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Onde estão as pipas?

Tempos atrás, encostei o carro no meio fio, enquanto meu filho seguia até a padaria e vi uma pipa voando com a linha arrebentada. Fiquei admirando seu voo engraçado e suave. Ao sabor do vento, ela se enrolava, desenrolava, virava de cabeça para baixo e voltava ao quase normal. Não pude deixar de imaginar as crianças que estariam correndo tentando adivinhar para onde o vento a levaria. Imaginei os rostos felizes e a corrida desenfreada para chegar primeiro e me vi alguns anos atrás, quando também corria atrás de pipas. Não é necessário saber se a pipa é “boa” ou não, basta o prazer de correr atrás. Não importa se é bonita e sim a agradável sensação de correr atrás e nem sempre o ato de conseguir a danada é o mais importante. Só o fato de poder correr, olhando para o céu e tentando adivinhar seu caminho já faz a alegria de uma criança. Me lembro, das poucas vezes, em que fui o vencedor, e das muitas vezes em que corri atrás e não consegui o prêmio, não fiquei frustrado. Havia certa decepção porque queria pegar a pipa, mas sabia que logo outra estaria solta pelos céus e lá estaria eu novamente correndo atrás. O voo da pipa é a essência da liberdade para uma criança. E, me lembro, olhando aquela pipa, tudo o que queria era sair correndo e participar da alegre disputa por aquele objeto de desejo. Um objeto que se disputa não pelo valor e sim pelo prazer de disputar e pelo prazer de conseguir. Apenas isso, simples assim! O que importa é o prazer de correr, de disputar, de adivinhar o caminho e de se sentir o vencedor quando se consegue o objetivo. Em minhas memórias, olhar a pipa, me fazia sentir na disputa e quase conseguia sentir o vento no rosto. Os olhos fixos no céu, passando sem ver, pessoas e locais, apenas admirando o voo e pensando no pulo no momento certo. Quando olhei aquela pipa, já imaginava para onde ia, lágrimas de emoção e me remeti a épocas felizes, brincadeiras e alegrias e me vi batendo palmas nas casas para pedir á pipa que caiu no quintal. Eu me vi subindo em árvores para pegar a danada que se enroscara lá, me vi correndo solto pelo mato, de olho no céu e nos companheiros que corriam ao lado com o mesmo sonho, com a mesma alegria e com a mesma esperança de pegar a pipa. Pés descalços, sorriso no rosto, vento, mato, natureza, criança, pipa, liberdade! Era como um sonho ou como um transe. A pipa seguia seu caminho e eu até já tinha conseguido ver suas cores, azul e branca, as cores da minha Taubaté. A rabiola enorme, já toda enroscada em si mesma e já ia terminando seu voo. Iniciava a descida e aumentava o frisson da criançada. Mais alguns segundos e ela teria um novo dono que daria um sorriso feliz e olharia para os amigos com ar de vencedor. Naquele momento, o meu sonho, ou transe, teve um fim quando meu filho saiu da padaria e me trouxe de volta.
Olhei para ele e depois para a pipa, ela estava quase caindo. Entrei no carro e saí com a certeza de que tinha vivido mais um pouquinho, parte das minhas alegrias de infância.
Mas, agora, me pergunto: Onde estão as pipas? Escondidas e envergonhadas atrás de uma tela de celular? Humilhadas e esquecidas por crianças que, a cada dia, deixam mais e mais de serem crianças. As crianças não sonham mais? Não correm atrás de seus sonhos? Não! Apenas viajam nas telas daquele aparelhinho maldoso.