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quarta-feira 27 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – O tempo e os sonhos

É engraçado como o tempo e os nossos sonhos se relacionam, para o bem ou para o mal.
Me lembro da infância, um tempo em que sonhava lindos e doces sonhos. Sonhos que, na minha infantil e inocente imaginação, se concretizariam no decorrer dos anos vindouros. Me tornaria jogador de futebol (qual moleque nunca sonhou???), o melhor do mundo. Sonhava em ser o camisa 10 (graças a Pelé, uma camisa mística) do Tricolor Paulista. Me imaginava no Morumbi lotado marcando o gol do título. Ou, quem sabe, um astronauta, ou um herói como aqueles das histórias em quadrinhos.

E, além desses sonhos malucos, haviam muitos mais, tão loucos quanto.
E, nenhum deles se concretizou, é claro.
O tempo passou e os sonhos, como sempre, mudaram.
Vieram os sonhos da adolescência, alguns ainda permaneciam como os da infância, como o de ser jogador de futebol. Sonhava em jogar como o Zico, ídolo da minha adolescência e juventude. Mas, a maior parte dos sonhos eram diferentes dos sonhos infantis, talvez tão utópicos quanto eles.

Agora, sonhava com lindas namoradas, atrizes da televisão e dos cinemas, beldades das capas de revista, principalmente, as da Playboy, carros importados, belas mansões e tudo mais.
Sonhos impossíveis, sonhos que fatalmente seriam moídos na roda do tempo. Sonhos que seriam esquecidos rapidamente.

Ah, o tempo e os sonhos, tão ligados e, ao mesmo tempo, tão inimigos, um sempre acaba destruindo o outro.
O quê é o tempo, perante os sonhos? Nada. Os sonhos não levam em conta o tempo.
E o que são os sonhos perante o tempo? Nada. O tempo os destrói rapidamente.
Veio a juventude, o sonho da faculdade, da realização pessoal, sonho de um mundo melhor, um mundo mais justo e o sonho de uma vida perfeita. Ainda sonhava com carros importados e mansões, mas o sonho de grandes viagens se iniciou. Cruzar os mares, os oceanos, o mundo.

Havia o sonho, desprezando o tempo, de que seria eterno, imortal, um verdadeiro highlander e seria feliz o tempo todo, tudo seria perfeito. Dores, decepções, frustrações, derrotas, perdas, doenças…nada disso fazia parte.
Mas, o tempo, ah, o tempo…faz questão de nos trazer a realidade da vida.
Faculdade ficou para trás, Engenheiro Químico, orgulho da mamãe e do papai, vou inventar coisas maravilhosas e resolver os problemas do mundo.

Apenas um mero sonho que o tempo, rapidinho, me mostrou a realidade.
O sonho de um filho, esse sim realizado. E, agora, mais que nunca, começavam as preocupações a realidade.
O sonho de um grande trabalho, tranquilidade para a família, realização pessoal e tempo para a família. Vamos sonhar…, como dizia o samba da escola de samba carioca, Padre Miguel: “Sonhar, não custa nada”.
Vida adulta, novos sonhos, novas utopias.

E, consequentemente, novas derrotas, frustrações, perdas e decepções.
O tempo passa e como passa, os sonhos mudam, mas continuamos sonhando, graças a Deus.
E ainda bem que continuamos sonhando, que se dane o tempo.
Veio o sonho de ser escritor. Realização de um sonho.
E sonhei com uma Bienal Literária para Taubaté e, a despeito do tempo que passa, em 2019 transformamos o sonho em realidade com a I Bienal Literária de Taubaté.

Voltamos a sonhar e estamos fazendo o sonho se transformar em realidade, mais uma vez.
Ah, o tempo… Ah, os sonhos…
O tempo passa, rindo dos nossos sonhos. E a gente sonha, rindo do tempo.