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quinta-feira 21 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – O tempo

É…o tempo…difícil de explicar…passa e a gente nem vê, nem percebe e quando damos por conta, já passou, já foi. Nos preocupamos à toa, em excesso e o tempo simplesmente segue. Não está nem aí se estamos bem, felizes, alegres, tristes, ocupados, à toa…, simplesmente vai. Normalmente, quando precisamos que demore, passa muito rápido e nem vemos. Quando queremos que passe rápido, temos a sensação que segue lentamente.

Quando somos crianças, queremos ser adultos, afinal, existe uma infinidade de coisas abertas e disponíveis no mundo dos adultos. Ser criança é chato, não ter com o que se preocupar e preencher os dias apenas com brincadeiras. Que horrível! Só ter que brincar. Chato demais!

Seria muito bom poder dirigir, trabalhar, ganhar dinheiro, casar (oh, meu Deus do céu!!!).
Por que sempre queremos ter outra idade? Por que não aproveitamos a que temos?
Com quinze anos queria muito chegar aos dezoito, atingir a maioridade e ser chamado de homem e quando finalmente cheguei aos dezoito, olhei surpreso para a minha habilitação, já tinha namorada, saía sozinho e sem horário para voltar para casa, mas o tempo passou rápido, muito rápido e diria até rápido demais. Depois, 25 anos e começo a pensar no casamento (brrrr…dá até calafrios, e hoje sei que tinha razão) e vem os filhos e quando percebo…aí está o aniversário de 35 e, mais um pouquinho, o primeiro filho já tem a habilitação e começa o desespero, a ficha caiu. No ano que vem, aniversário de 50 e as pessoas já me chamam de senhor, quem diria? Senhor? Cinquenta anos! Como isso é possível?

Filho formado, encaminhado, quase casado, incrível, e mais alguns meses e poderei tirar a carteira de idoso. Credo! Como assim? Daqui a pouco vou fazer sessenta! Como é possível? Ainda ontem eu tinha 15 anos, quero minha juventude de volta.

Grito, berro, esperneio, mas não adianta…, já passou tudo…, os 15, os 18, meus 25, meus 35, meus 50…, o que aconteceu com eles, onde estão? E essas dores? Em que momento começaram? Porque a coluna trava? Porque a pressão sobe? E esse danado de açúcar no sangue? E o joelho que dói à toa, será reumatismo?

O tempo passa e sei que logo, logo…, as coisas serão assim:
Para minha alegria e desespero…a netinha terminou a faculdade, que orgulho! Os cabelos, brancos e ralos, vão esvoaçar ao vento, no banco do passageiro, enquanto meu neto caçula dirige. Vou abrir um grande sorriso, o tempo, este senhor que nunca envelhece, mas que nos faz envelhecer, passou por nós e, brincando, nos transformou.
As memórias vão desfilar como cenas de um filme em câmara lenta e vão provocar sorrisos, lágrimas, arrependimentos, melancolia, saudades e tudo o mais, mas…, mas…, o tempo não estará nem aí para as minhas lembranças doces ou amargas, simplesmente vai passar e pronto.

O tempo, sempre ao nosso lado, sem nos deixar, traz consigo as mudanças.

Uma coisa engraçada e verdadeira que sempre diz meu cunhado-irmão…”O tempo é o maior construtor de monstros”. KKKKKK…muito real.
Olho para trás, para os anos que se foram e, apesar de tudo, estou feliz, na medida do possível, fiz minha parte e dei minha contribuição.

A vida segue seu ritmo, o mundo segue seu rumo e tudo passa, tudo muda e me pergunto para que dar importância tão grande para coisas tão pequenas se o tempo e a mudança, sua companheira, vão dar o tom que lhes convier sem pedir minha opinião?

E, um dia, com o bisnetinho no colo vou até a sombra de uma árvore, no quintal de casa e em um piscar de olhos já o estou vendo correndo atrás da bola e, um dia, já com quinze anos, vai olhar pra mim e dizer: “Não vejo a hora de fazer dezoito para poder tirar minha habilitação”.

Olho para ele, engulo em seco, simulo um sorriso e penso:
“Ah, o tempo…esse inescrupuloso, implacável e terrível companheiro, dia após dia, mês após mês, ano após ano e geração após geração”, passa por nós indiferente a tudo e assim a vida segue. E que venham, dentro de mais alguns meses, os meus sessenta.