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segunda-feira 18 novembro 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – O ratinho e o urubu

Hoje deu uma vontade de contar uma historinha e já viu Escritor, né? Não perde a oportunidade de criar histórias. E eu adoro histórias de ficção, de fantasia, de heróis e vilões. Ás vezes a fantasia entra na realidade, às vezes é a realidade que invade a fantasia e, às vezes, é difícil definir a fronteira entre uma coisa e outra. Quando pensamos estar em um mundo de fantasia, de repente percebemos o quão próximo (ou dentro) da realidade estamos.

Seriam analogias? Seriam coisas reais, disfarçadas de fantasia? Ou seriam fantasias mostrando os absurdos de uma irrealidade qualquer? Sei lá, parece tudo muito louco, né?
Mas, você vai entender, sei que vai. Oh, se vai.
Ah, escritor. Não complica. Trata-se somente de uma historinha de bichinhos nada fofos.
Tudo começa com um ratinho gordinho, barrigudinho, bigodinhos brancos denunciando a idade avançada. Mas, isso não o impedia de roubar e ele adorava isso. Adorava roubar uns pedacinhos de pão ou de queijinhos de vez em quando ou seria sempre? Na verdade, o danado sempre roubava. Era compulsão, assim como o hábito dos goles de cachaça, não conseguia se segurar.

Roubava na segunda-feira, na terça, na quarta, na semana inteira. Roubava na cozinha, na sala, nos quartos e em todo lugar. No começo, só roubava na escuridão, depois se cercou de muitos outros ratinhos e passou a roubar à luz do dia. Não queria nem saber, nem escondia mais sua ânsia por roubar, sua ânsia pelo poder. E não mais se contentava em roubar os pequenos pedacinhos de pão e queijo. O ratinho pensava grande, não se contentava mais com migalhas. Roubava dezenas de reais, centenas de reais, milhões e milhões de reais, dezenas e centenas de milhões de reais…, a todo dia, à toda hora. Se tornou o grande chefe da quadrilha de ratinhos, dominou a rua inteira, o bairro, a cidade e o mundo. E ai daquele ratinho que não seguia suas ordens ou que quisesse abandonar a vida tranquila de roubos. Pagava muito caro. Oh, pobre daquele que ousasse denunciar o esquema criminoso e o ratinho chefe.

E foram vários os ratinhos que pagaram caro por sua infidelidade com o chefe. E o ratinho era tão esperto que para poder roubar, pagava suborno para os gatos e cachorros e até a empregada passou a receber propina do danado para não denunciar seus passeios pela casa. Sem contar o papagaio maluco que tinha mania de falar demais e ficava gritando o tempo todo… “Olha o ratinho, olha o ratinho…”. O jardineiro passou a receber propina, o coletor de lixo daquela rua, o policial corrupto, o sorveteiro, o dono da padaria, o artista, o prefeito da cidade dos ratinhos, enfim…, o ratinho passou a pagar todo mundo e assim roubava cada vez mais e ninguém o denunciava. E ele se achava, era metido, arrogante, se dizia o maior, o melhor e que permaneceria cem anos no poder. Mas, espera! Para que um rato quer cem anos de poder se não vai viver para tanto? E ele estufava a barriga e com bafo de cachaça anunciava que o poder ficaria para a sua quadrilha de malfeitores. E que para postergar seus atos, nomearia qualquer um, até mesmo uma formiga. A faria a grande chefe de tudo. E assim o fez, imagine, uma formiga burra se tornou a chefe. E esse foi seu erro, a formiga era burra e fraca demais, fácil de ser esmagada com o pé. Foi a sua ruína. Alguém que, supostamente, não aceitaria propina o colocou atrás das grades de uma gaiola. E sua quadrilha chorava do lado de fora.

Parecia ser o seu fim, mas só parecia. Em uma noite escura, andava para lá e para cá em sua gaiola e teve uma brilhante ideia, mandou chamar alguém que um dia já havia ajudado, lhe devia favores. Um astuto urubu (ou seria morcegão?), de asas negras e cabeça sem penas. Bico afiado, garras longas e mais afiadas ainda. Então, o astuto, feio e poderoso urubu, mandou chamar mais urubus de longas asas negras. Chamou poderosos e ricos senhores sorridentes, homens que gozavam de respeito, mas com interesses pessoais acima dos interesses de todos. Poderosos donos da comunicação na comunidade dos ratos. E vieram outros ratos, que no anterior período de roubos do ratinho, haviam se beneficiado e vieram também os tolos. Aqueles pobres que acreditavam no ratinho. Ah, pobres. Montaram um perfeito e ardiloso esquema para trazer o ratinho de volta ao poder. Tirem o ratinho da gaiola, cometeu crimes, mas e daí? Vamos ajuda-lo, que depois ele nos ajuda.
E junto com seus comandados, o ratinho sorridente olhou para o céu negro e ficou feliz em ver as nuvens se tornarem mais densas e mais e mais escuras.